PAGU, A MUSA MODERNISTA - EDUARDO BUENO

Ah, Pagu, Pagu, impagável Pagu, inapagável Pagu!

Gatinha de 119 anos de idade, cuja chama continua ardendo, continua acesa e nos mantém iluminados.

A Pagu, a Patrícia Galvão, é uma das "mulheres que amamos" aqui no canal Buenas Ideias, uma

mulher sensacional nascida no dia 9 de junho, de 1910 portanto, no auge dos seus 119 anos

de idade, porque Pagu vive, embora tenha morrido em 1962.

A Pagu é realmente uma dessas mulheres que amamos porque é uma musa rebelde e é musa

desde os 13 anos de idade.

Isso aí, em 1923 ela já causava.

E com 14, 15 anos de idade ela já mostrava que tinha vindo ao mundo pra ser rebelde.

Ela fumava cigarro, ela tinha os cabelos curtos e eriçados, ela usava roupas transparentes...

e era inteligente e era poeta.

Sim, Pagu, porque ela foi, Patrícia Galvão, foi poeta, foi escritora, foi dramaturga,

foi cartunista, foi desenhista e foi militante política, né.

Ela ficou famosa pela primeira vez quando o Raul Bopp, né, o cara de "Cora Norato",

um grande poeta modernista fez um poema pra ela dizendo "Pagu"... foi ele que deu o apelido,

ele achou que o nome dela era Patrícia Gulart, e era Patrícia Galvão, né, ele se enganou

no nome, mas acabou criando esse sobrenome maravilhoso.

E aí ele disse "Pagu, de olhos moles".

Você já viu né, nesse novo formato aqui das pílulas do canal Buenas Ideias não tem

mais imagens, inserções, né, a não ser a minha belíssima imagem, mas vai ter que

entrar aqui, vai ter que entrar aqui essa imagem, essa cara, essa foto clássica da

Pagu pra você ver esses olhos aquosos e sonhadores.

A Pagu começou a causar ainda mais alvoroço na cena quando acabou sendo pivô da separação

dos grandes modernistas Tarsila do Amaral, a pintora, e Oswald de Andrade, Oswald, como

ele gostava de ser chamado... se separou, o Oswald se separou da Tarsila por causa da

Pagu, né, quando a Pagu tinha 19, 20 anos de idade.

Aí causou o maior alvoroço, o maior rebuliço, parará.

O mais louco cara, eles casaram em 1930, né, e o Oswald separou da Tarsila depois de quatro,

cinco anos de casamento e diziam que ele já era amante da Pagu antes, né, então pá,

foi aquele rolo.

Eles casaram, tiveram um filho logo em seguida, no mesmo ano de 1930, por isso que se diz

que eles já eram amantes, né, e aí em 30... e aí se filiaram no Partido Comunista.

Aí, tu sabe, tem umas mala aqui no canal do Buenas Ideias "partido comuniista", é

sim, Partido Comunista, foram pra Cuba, depois foram pra Venezuela, ganharam financiamento

da lei Jouanet, né...

Cara, em 1930 ainda dava pra ser comunista, cara, ainda dava, ainda dava!

Não se sabia de fato o que tava acontecendo lá na União Soviética, depois que se descobriu

todos os horrores stalinistas, né, o Lênin já tinha morrido, não que o Lênin não

fosse horroroso também né, mas também não se sabia.

O fato é que eles viraram militantes e em 1931 a Pagu foi presa, foi a primeira mulher

brasileira que há registro de ter sido presa por militância política porque ela tava

participando de um comício em defesa da greve dos estivadores de Santos.

Mulher digna, mulher decente, os estivadores ganhavam pouco, tinham mais é que fazer greve

mesmo.

Aí, ela foi presa e torturada pelo governo Vargas, se mandou, foi pra Paris, como convém

a uma boa esquerdista, Paris é um ótimo lugar para a esquerda.

Só que lá com uma identidade falsa, também foi presa, parará, em 33, deportada pro Brasil,

de volta.

Bom, daí cara, começou a repressão do governo Vargas e aí foi horrível, ela foi presa

durante... e torturada durante um tempão, um horror, um absurdo, típico de ditadura,

né, e aí ficou cinco anos em cadeira de rodas.

Acabou se separando do Oswald e tal, bababá bababá, uma história meio triste, meio tal.

Mas aí ela casou com o Geraldo Ferraz, que era um jornalista e escritor também... tiveram

um filho, vou abrir um parêntesis, que o amado Geraldo Galvão Ferraz, amável o Quico,

meu amigo, com quem trabalhei no Estado de São Paulo, querido Kiko, que em 1973, traduziu

o livro "Enterrem Meu Coração na Curva do Rio" , do D.

Brown, um dos livros que mais influenciou a minha vida.

O livro chamava "Burn My Heart at Wounded Knee", "wounded knee", joelho quebrado, joelho

ferido, era uma curva de um rio e ele traduziu já brilhantemente desde o título, né, "enterrem

meu coração na curva do rio", querido Kiko, né, meu amigo meu colega.

E aí a Patrícia continuou, a Pagu continuou militando... largou o Partido Comunista em

1940 e virou socialista!

Socialista, não incomoda, socialista!

E aí ela começou a desenhar, a produzir caricaturas... e é o seguinte cara, tradutora,

traduziu "A Cantora Careca" do Ionesco, traduziu Fernando Arrabal, traduziu Octavio Paz, traduziu,

traduziu, tem mais um que ela traduziu, tá, não interessa, traduziu outros caras aí,

ahhh, traduziu JAMES JOYCE!

Traduziu James Joyce!

Sabe, uma mulher incrível, maravilhosa, militante, libertária, bonita, atraente... e meio maluca

como convém a todo mundo que presta, não é mesmo.

Bom, aí as histórias não vão mais tão bem, ela descobre que tem câncer, cedo, com

50 anos de idade, tal, e acaba morrendo em 12 de dezembro de 1962, com 52 anos de idade,

mas pelo menos não viu o golpe de 64, né.

O fato é que Pagu vive na sua obra, na sua poesia, Pagu vive nas suas traduções, e

o canal Buenas Ideias venera Pagu e venera Tarsila do Amaral também e estamos começando

a semana dos namorados, portanto o canal Buenas Ideias quer namorar Pagu e Tarsila do Amaral

e reconciliá-las, tá bom.

Então é isso aí, mais uma pílula doce, suave, para deixar seu domingo ainda melhor.