Meu Deus, Luís, o que aconteceu aqui?
Oi, meu amor, já chegou? Isso aí é o Dudu.
Ficou brincando o dia inteiro, bagunçando tudo.
Fiquei distraído vendo isto aqui, mas vou arrumar tudo agora.
Não. Não arruma nada, não. Não mexe em nada.
Isto aqui são sinais.
-Sinais? -Você não percebe
que nosso filho está tentando se comunicar com a gente
-e não consegue? -Não sei se eu percebo muito, não.
Este leite aqui.
O que isto significa, Luís?
Ué, significa que nosso filho não tem coordenação motora.
-Basicamente. -Isto aqui é uma falta de atenção.
Isto aqui talvez seja uma possível carência.
Ele sente falta de uma figura responsável,
-de cuidado. -Você vai ler o leite no chão.
Tem gente que lê borra de café. Eu leio leite.
Aqui, olha. Se a gente não conversar com ele agora,
isto aqui vai piorar. É que não está muito certo ainda. Está...
Será que você não está exagerando um pouco, meu amor?
-De repente... -Mãe entende das coisas.
Tudo tem significado, Luís.
Esta bagunça aqui é uma forma de chamar a atenção.
É, faz sentido um pouco, realmente. Apesar de você estar lendo isso
numa caneca do Bob Esponja no chão.
-Luís, o que é aquilo ali? -Isso é um rabisco na parede.
Isto aqui é Dudu, que gosta de desenhar.
Esse vai virar um pintor. Fiquei de limpar,
mas me distraí. Acabou que não limpei.
Isto aqui é tinta Coral. Sai fácil.
-Não! Não limpa, não. -Hein?
Deixa isso aí. O problema não é a parede, não.
O problema são esses desenhos aqui, olha.
Esta batata?
Isso não é uma batata. Isso é um olho,
-que está observando aqui, olha. -O que é isso? Um olho?
É, ele está observando essa família aqui, eu acho.
-Esse desenho aqui. -Eu jurava que era batata.
Pois é. Repara só a figura feminina, como ela se afasta.
Está triste, como se fosse embora a qualquer momento.
Ela grita: "Socorro. Não aguento mais".
Parece que está todo mundo sorrindo. Está um sorrisão na cara do pessoal.
-Não. Esse sorriso é falso. -É?
É. Isso é quase um espasmo de quem finge estar feliz o dia inteiro,
mas quer chorar no trabalho.
E olha, a figura masculina. Olha lá.
-A figura masculina da criança? -A adulta.
Está vendo? De tonto, ele só tem o sorriso.
Porque ele é esperto na hora de dar uma desculpa
de que a parede é de Coral Super Lavável,
que é só passar um paninho úmido que sai fácil, fácil.
Mas não é esperto ao lembrar que o casamento acabou
desde quando ele decidiu não varrer a porra do tapete.
A figura masculina até, de repente, ia varrer o tapete
e ia limpar toda a parede. O problema é que aconteceu...
Você percebe? Que, quanto mais a figura masculina dá desculpa,
a figura feminina vai se afastando?
-Meu Deus, ela andou um pouco mais. -Ela andou. Está indo embora.
Está vendo? O Dudu percebeu.
E o que a gente vai fazer pra resolver
esses problemas comportamentais do Dudu?
A gente vai conversar com o Dudu.
-A gente vai conversar com ele? -Não. Não vai. Não vai.
Vai varrer o tapete e limpar a parede.
Vai varrer o chão e vai limpar a parede, vai?
Não, não. A figura masculina vai encher a banheira
com água quente pra figura feminina relaxar gostoso,
assistindo à série preferida dela.
E ela vai receber uma massagem no pé muito gostosa,
muito carinhosa e bem profunda.
Olha, Luís. Que bom!
Aprendeu rapidinho a ler os sinais, não é?
Eu fiz um semestre de Psicologia na faculdade.
Só vou organizar esta confusãozinha aqui.
Chegou a pegar lasca em mim.
Não entendo exatamente por que apagar.
A pessoa feliz, sorrindo... É uma família feliz.
É isso que é. Família feliz, completamente feliz.
Aquilo é uma batata.
Gente, se não é uma batata, é um tubérculo.
Vamos tirar só o chifre.
É por isso que confundiu, meu amor.
Porque tinha chifre.
Com quem você está agora, meu amor?