4 razões para fugir de teste rápido após vacina contra covid-19
Você tomou vacina contra a covid, fez um teste rápido de anticorpos e ficou preocupado porque
deu negativo? Ou seja, está se perguntando se deve interpretar que a vacina não fez efeito?
A resposta é direta: você não deve fazer essa interpretação, segundo os cientistas. Na verdade,
eles dizem que você nem deveria ter feito esse tipo de teste com essa finalidade.
Eu sou a Laís Alegretti, da BBC News Brasil, e conversei com especialistas
em biologia e doenças infecciosas para explicar aqui por que o teste
rápido de anticorpos não deve ser usado como forma de “checar se a vacina fez efeito”.
“Testes rápidos de anticorpo de farmácia não servem para dar uma resposta individual,
se você está protegido ou não. Eles não servem para isso, eles só servem para
fazer análises populacionais. Eles não servem para te dar uma resposta individual. É jogar
dinheiro fora e criar minhoca na cabeça. A pessoa vai ficar preocupada à toa.”
A explicação sobre por que esses testes não são uma forma de verificar como seu
corpo reagiu à vacina tem a ver com a baixa sensibilidade deles e com o fato de analisarem
só um pedaço da resposta do sistema imunológico. Vou explicar direitinho aqui em quatro pontos:
O primeiro ponto é que os testes rápidos de anticorpos não foram desenvolvidos com
a finalidade de checar como o corpo reagiu a vacinas. Então o fato é, simplesmente,
de que não é essa resposta que o teste está buscando. Eles foram construídos
e testados para identificar a resposta a infecções virais.
Bom, aí a gente pode perguntar: bom, mas então qual é a finalidade dos testes
sorológicos? Eles têm papel importante do ponto de vista coletivo. Por exemplo,
quando são feitos em muitas pessoas em uma determinada comunidade,
eles ajudam a responder sobre o nível de circulação que um vírus teve naquele lugar.
Bom, e o segundo ponto a ser levado em conta, quando se trata da tentativa de chegar a uma
resposta individual, é que esses testes não vão além de uma resposta de “sim ou não”, são pouco
sensíveis e têm alta taxa de erro, como explica o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.
“O teste de farmácia, rápido, é o menos sensível. Ele só tem uma vantagem:
é rápido. Ele tem um coeficiente de falso negativo elevado e,
exatamente por ser um teste de verificação visual, a sensibilidade dele é menor”
Esse é um dos motivos que explicam por que um resultado negativo nesses
testes não significa necessariamente que você não está preparado para combater o
vírus. E assim eu já chego no terceiro e importante ponto, que é o seguinte:
esses testes só medem um componente da resposta do sistema imunológico.
É por isso que a Natalia Pasternak diz que, mesmo para um corpo vacinado e preparado
para reagir a uma infecção, o teste poderia dar negativo.
“Esse teste não consegue dizer se você tem células de memória,
se você tem resposta celular de linfócitos T… Ele só vai te dizer um tipo de anticorpo e só
se a quantidade for detectável de acordo com a sensibilidade do teste. Isso não quer dizer
que você não está protegido. Você pode estar cheio de células de memória, prontinhas para
secretar um monte de anticorpos no seu sangue na hora que você tiver contato com o vírus”
Na verdade, dependendo do teste e da vacina tomada, ele pode nem mesmo estar
buscando identificar o elemento correto. Olha a explicação da Natalia Pasternak:
“Os testes de farmácia geralmente procuram anticorpos contra a proteína N,
do núcleo capsídeo, e não a proteína S, da espícula, que é justamente a proteína que
está presente na maior parte das vacinas. Então, todas as vacinas que trabalham com
subunidade ou as vacinas genéticas vão gerar anticorpos contra a proteína S e isso não vai
aparecer no teste de farmácia porque ele procura anticorpos contra a proteína N”
O quarto ponto é que o resultado do teste seria uma fotografia do momento,
e não te daria uma garantia de como seu corpo estará amanhã ou depois.
Isso porque o comportamento do sistema imunológico não é estático, mas dinâmico.
E, como a gente já falou aqui, os pesquisadores ainda buscam
identificar por quanto tempo a vacina terá efeito em nosso corpo.
Enquanto isso, e com a circulação do vírus tão alta como está no Brasil,
eles destacam que as pessoas precisam ter em mente que é necessário tomar as duas doses da
vacina quando elas estiverem disponíveis e não abandonar medidas de proteção,
como o uso de máscaras boas, fazer distanciamento social e evitar principalmente locais fechados.
Eu falei também com a Silvia Costa, que é professora da USP e médica
especializada em doenças infecciosas. Ela lembrou que, entre uma dose e outra,
se a pessoa tiver uma exposição ao vírus, pode ter a doença. E pode
inclusive ser grave. Isso também vale para as duas primeiras semanas depois da segunda dose.
Além disso, vale lembrar que as vacinas, individualmente,
não são infalíveis. Nenhuma é 100% eficaz.
Outra coisa importante que todos os cientistas lembram é que a
vacinação é uma atividade coletiva, e não individual. É o grande número de vacinados
que vai permitir que uma doença deixe de circular e todo mundo fique protegido.
Antes de terminar, você pode me perguntar:
e os testes sorológicos que são feitos em laboratórios comerciais?
Bom, eles são mais sensíveis que os testes rápidos disponíveis na farmácia e podem, segundo
os pesquisadores, mostrar resultados diferentes em relação aos resultados aferidos num teste rápido.
Mesmo assim, eles não recomendam que as pessoas busquem esses testes com essa finalidade de
checar a vacina e sem acompanhamento médico. E o teste também não vai dar uma resposta completa,
como sobre sua resposta celular e suas células de memória. Ou seja,
também avaliaria apenas um aspecto da resposta imune.
Bom, se você achou esse vídeo útil, manda pra quem você conhece que buscou fazer
esses testes e ficou preocupado demais ou relaxado demais depois do resultado.
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