Covid-19 : Petição "Direito à Cura" contra patente de vacina
Na acelerada corrida para obter uma vacina contra a Covid-19, uma petição intitulada "Direito a Cura" foi publicada na Internet para pedir à Comissao Europeia que defenda a renúncia aos habituais direitos de patente.
O objetivo é garantir o acesso livre e universal a esta forma de prevenção da doença e é apoiada pelo grupo da esquerda radical no Parlamento Europeu.
"É importante, por um lado, garantir a acessibilidade generalizada e a preço razoável para toda a gente. Por outro lado, em termos de disponibilização, não pode deixar-se apenas nas mãos de um monopólio, de uma única empresa, porque não haveria vacinas para todos (toda a gente", disse Marc Botenga, eurodeputado belga).
Algumas farmacêuticas argumentam que precisam de patentes para recuperar as verbas investidas nas fases de investigação e desenvolvimento.
(Bem público financiado com dinheiro público):
Mas no caso específico da Covid-19, alguns especialistas em saude pública alegam que a vacina deve ser considerada um bem público global necessário para travar a pandemia, até porque essa indústria recebeu muito financiamento público.
"Os governos que agora disponibilizam verbas públicas podem impor condições, argumentando que o conhecimento obtido com base em subsídios públicos deve ser partilhado com todos os que integram a plataforma científica para a luta contra a Covid-19 que está a ser coordenada pela Organização Mundial da Saúde", (afirmou Ellen 't Hoen, especialista em patentes de medicamentos).
A União Europeia organizou uma conferência global que conseguiu arrecadar quase 16 mil milhões de euros para o desenvolvimento de vacinas, tratamentos e testes.
Na altura foram estabelecidos critérios para selecionar os projetos a serem financiados, como por exemplo, o dever de aceitar compromissos para disponibilizar a vacina aos países mais pobres.
Mas a questão das patentes ainda está em discussão.
"Tudo depende do resultado das negociações entre a Comissão Europeia e os Estados-membros, bem como da negociação com quem está a desenvolver a vacina. De qualquer forma, fará parte das cláusulas contratuais previstas nos acordos de pré-compra", (explicou Stefan de Keersmaecker, porta-voz da Comissão Europeia).
(Poliomielite e HIV):
Na história recente, houve alguns exemplos de partilha da propriedade intelectual, nomeadamente o da vacina contra a poliomielite, nos anos 50.
Jonas Salk recusou-se a registar a patente, perguntando: "Álguem pode patentear o sol?"
"- O que salvou a vida a milhares de crianças".
O mesmo não se passou com o tratamento para o HIV nos anos 90.
"Demorou 20 anos para estabelecer um plataforma para partilha dos medicamentos. Essa lição deveria ter sido aprendida, nao devemos repetir o que se passou", (disse Ellen 't Hoen).
O acesso univeral está longe de ser garantido enquanto a partilha de conhecimento e a renúncia ã patente for feita apenas em base voluntária, mas o impacto desta pandemia mostra como é urgente que seja um dado adquirido para a Covid-19.