Encontro com Paulo Coelho
Edney Silverstre – Prédios antigos, telhados centenários. A paisagem do velho mundo.
[Música]
Viajamos 9.155 quilômetros, do Rio de Janeiro à Genebra, para um encontro raro. No local onde mora e trabalha, um dos brasileiros mais famosos do mundo.
Paulo Coelho vive na Suíça há quatro anos. Além do apartamento duplex que ele tem aqui em Genebra, ele também têm residências em Paris, Barcelona, um apartamento de frente pro mar em Copacabana, e agora, está planejando a compra de um apartamento duplex, em Nova York. São frutos de uma fortuna, trazida pela a venda extraordinária de 150 milhões de livros no mundo inteiro.
Foi aqui que Paulo Coelho escreveu seu livro mais recente: “Manuscrito Encontrado em Accra”, lançado há apenas um mês – e já na lista dos mais vendidos. Logo na chegada, surpresa.
Paulo Coelho – Você repara meu escritório? Não tem nenhum livro à vista, né?
Edney Silverstre – Você parou de ler, não lê mais?
Paulo Coelho – Não, ao contrário. Eu leio muito, mas não considero livro uma manifestação de status. Ou seja, não tenho uma vasta biblioteca aqui, para mostrar à você e seus telespectadores, que eu sou uma pessoa muita culta.
Edney Silverstre – Paulo é ligado a novas tecnologias.
Paulo Coelho – Esse é um livro. Essa é uma biblioteca! [Risos]
Edney Silverstre – Um homem do século XX, de olho nos séculos que ainda virão.
Paulo Coelho – No fundo, o escritor é aquele que tem algo a passar através da palavra escrita e que vem passando através do livro, passou pro livro eletrônico e podemos ir pro Twitter, pr'um Facebook, pr'um blog.
Edney Silverstre – O livro ainda tem função nesse mundo novo?
Paulo Coelho – Eu diria que um livro é um catalisador. O livro é aquilo que provoca dentro de você uma reação. A diferença do “Manuscrito Encontrado em Accra”, foi um livro que eu, quando escrevi, eu escrevi em 15 dias.
Edney Silverstre – 15 dias?
Paulo Coelho – Isso é uma coisa que eu aprendi na música. Todas as músicas que deram trabalho não fizeram sucesso. Todas as músicas que eu escrevi em cinco minutos foram os grandes sucessos.
> “Eu sou a luz das estrelas;Eu sou a cor do luar;Eu sou as coisas da vida;Eu sou o medo de amar.”
[“Gita” - 1974/por Paulo Coelho e Raul Seixas]
> “Quem é ele?Quem é ele?Esse tal de Roque Enrow!Um planeta, um desertoUma bomba que estourou”
[“Esse tal de Roque Enrow” - 1975/por Paulo Coelho e Rita Lee]
Paulo Coelho – Todo livro que der muito trabalho é por que ainda não tá maduro dentro de mim.
Edney Silverstre – Há uma fórmula para os seus livros?
Paulo Coelho – Há uma fórmula pros meus livros, sim. Não use fórmulas. Imagine, se eu vou usar uma fórmula, nunca vou poder escrever “Onze Minutos”, um livro sobre prostituição.
Edney Silverstre – O mais bem sucedidos dos escritores brasileiros também conhece o fracasso.
Paulo Coelho – Tem livros que não funcionam. Te dou um exemplo. Eu convivo com meio das celebridades. É um meio absolutamente fascinante. Eu disse, eu vou escrever sobre esse meio. Escrevi um livro chamado “O Vencedor Está Só”. Vendagem? Zero!
Edney Silverstre – A crítica faz diferença, para você?
Paulo Coelho – Não, a crítica faz diferença quando ela toca no leitor. Normalmente, quando você lê a crítica, você vê que ela não leu o livro, ela ataca o escritor, mas, não contente em atacar o escritor, ela ataca os leitores. Aí, eu eu sou tomado realmente de dores. Por que o leitor não tem nada de estúpido.
Edney Silverstre – Para muitas pessoas, seu sucesso é resultado de: bruxaria, boas traduções, misticismo e auto-ajuda.
Paulo Coelho – As boas traduções, tudo hoje…isso eu já escutei, né? É…Ninguém pegaria um livro mal-escrito e traduziria bem. A bruxaria! [Risos] Eu tenho um pacto com Deus, feito do fundo do meu coração e eu peço a Deus que Ele jamais me deixe, desviar do meu caminho. Até agora, eu não me desviei, então é isso. O pacto é assumido, tá assumido e, se Deus quiser, eu serei capaz de honrá-lo até o final.