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Podcast do projeto Querino (*Generated Transcript*), 4. O colono preto - Part 2

4. O colono preto - Part 2

Resumindo muito, o Paraguai era governado por um ditador, o Brasil interveio numa disputa pelo poder que estava rolando lá no Uruguai,

uma parte da Argentina acabou sendo invadida pelo Paraguai no meio dessa confusão toda,

daí os três países, Brasil, Uruguai e Argentina, se juntaram contra o Paraguai.

E o nosso menino, agora um adolescente, acabou recrutado pra essa guerra.

Foi enviado primeiro pra Pernambuco, depois acabou no batalhão no Rio de Janeiro,

mas quando descobriram que ele sabia ler e escrever, ele ficou lá, não mandaram pra frente.

Onde muita gente morreu ou voltou sem um braço, sem uma perna.

O rapaz conseguiu liberação do exército e voltou pra Bahia.

Quando ele voltou pra Bahia, ele passou a trabalhar como pintor decorador,

pra poder buscar os estudos quando eu estudava à noite.

Ele acabou sendo aluno fundador da Escola de Belas Artes.

Foi aluno fundador do Liceu de Artes e Ofícios,

e o nome dele está lá na relação dos alunos fundadores da escola.

Por toda a vida adulta, ele foi professor, principalmente de desenho geométrico.

Foi sindicalista também e fundou dois jornais.

Foi carnavalesco um dos diretores de um grupo afro chamado Pandegus da África.

Você vê que é difícil resumir a vida dele.

E num determinado momento, ele começou a escrever.

Ele escreveu dois textos sobre desenho geométrico que foram usados nas escolas.

Escreveu um livro de folclore, A Bahia de Outrora,

que acho que o livro dele, que é mais conhecido fora do Brasil.

Começou a escrever sobre a história da arte,

escreveu dois livros, A Arte na Bahia e Os Artistas Baianos.

Ele escreveu muita coisa.

O nome dele,

Emanuel Raimundo Quirino.

Um intelectual negro que também foi militante,

foi jornalista, foi abolicionista, foi líder operário,

foi político, foi vereador, foi funcionário público.

E isso foi antes que ele começou a escrever,

porque ele só começou a publicar livros depois de se aposentar.

Aí ele foi o primeiro historiador da arte baiana,

ele foi o pioneiro dos estudos da antropologia culinária da Bahia.

O que mais me interessa é que ele também foi o primeiro negro,

o primeiro intelectual negro a reivindicar a contribuição positiva

do africano e seus descendentes à civilização brasileira.

O que mais me interessa é que ele também foi o primeiro negro a reivindicar a contribuição positiva

do africano e seus descendentes à civilização brasileira.

Porque ele exigiu respeito pelo africano e o afrodescendente,

que eu sinto que é o que ele sentia falta na própria vida também.

Porque quando ele não era tratado com preconceito,

era tratado com paternalismo, que é o lado inverso da moeda.

Nenhum dos dois lados é bom.

O que mais me interessa é que ele exigiu a ideia do racismo dito científico.

Eu uso o dito científico porque não tinha comprovação científica nenhuma.

Era um monte de racista entendido pela sociedade da época como cientista

por causa dos diplomas que tinham,

espalhando um monte de teoria furada sem conseguir provar.

Mas fazia isso de forma rebuscada, abusando do academiquês, enfim.

Era balela travestida de ciência.

Os cientistas achavam que o negro e o mestiço estavam fadados a sumir

porque eles pensavam,

indo completamente contra todas as regras da botânica e da biologia,

que mistura enfraquecesse

e que o negro e o africano não conseguiriam resistir

frente à, entre aspas, superioridade da civilização branca.

Agora, eles estavam se baseando em quê?

Um sistema de escavatura

onde, em vez de criar novos negros engravidando as mulheres escravizadas,

eles importavam porque era mais econômico para eles.

Eles matavam os escravos de maus tratos,

de tanto trabalho, das péssimas condições de trabalho.

Então, a conclusão dos racialistas foi porque era por causa de fraqueza,

de não suportar a suposta superioridade da civilização branca.

Mas, como podemos ver, a situação foi bem contrária.

O negro resistiu e está presente até hoje.

E foi aí que Manuel Quirino entrou,

porque, quando ele começou a trabalhar, a fazer suas pesquisas,

ele quis usar seu próprio exemplo para mostrar que essa ideia,

esse estereótipo do negro como boçal ou burro

era justamente por falta de oportunidade de estudar.

Jogando o jogo dos brancos, o Quirino foi derrubando os argumentos.

Aliás, um outro nome importantíssimo no combate ao racismo dito científico

foi o Juliano Moreira,

o genial médico negro que revolucionou a psiquiatria brasileira.

E a forma como ele combateu esse racismo

foi na arena do conhecimento científico mesmo,

da ciência, derrubando cada falácia com dados, com estudo.

O Quirino já tinha uma pegada mais da história,

da construção da imagem do negro, da construção de memória.

Os dois tiveram uma atuação importantíssima na luta contra o racismo,

cada um na sua área.

Tem um texto do Manuel Quirino, de 1918,

que é um dos documentos mais incríveis que eu já li.

Começa pelo nome.

O colono preto como fator da civilização brasileira.

Olha a palavra que ele escolheu.

Colono.

Colono é aquele que habita uma colônia, que é membro, que é parte de uma colônia.

O Quirino estava colocando o negro para dentro da história oficial.

Não como escravizado subserviente, sem agência, sem conhecimento,

que só servia para executar ordens.

Mas como parte do todo.

E uma parte crucial.

Como protagonista.

Nesse livro, ele escreveu o quê?

O colono preto é a principal figura, o fator máximo da nossa riqueza econômica,

fonte da organização nacional.

Que foi o trabalho do negro que aqui sustentou por séculos

a nobreza e a propriedade do Brasil.

Foi com o produto do seu trabalho que tivemos as instituições científicas,

letras, artes, comércio, indústria, etc.,

competindo-lhe, portanto, um lugar de destaque

como fator da civilização brasileira.

Mas calma que tem mais.

Ele cita o nome de vários intelectuais negros, como o Machado de Assis,

a Família Rebouças, o José do Patrocínio e o Cruz de Souza,

e escreve que eles representam

o que há de mais seleto nas afirmações do saber,

verdadeiras glórias da nação.

O Manuel Quirino dizia que o Brasil possui duas grandezas reais,

a uberdade do solo, a abundância, né?

E uma abundância fértil, fecunda.

Bom, mas a uberdade do solo e o talento do mestiço.

E o Quirino também foi bem direto ao tratar dos senhores brancos,

dizendo que eram dotados de cobiça, de parasitismo.

E que, fora os funcionários da alta administração,

as primeiras levas de colonos portugueses eram de degredados,

de indivíduos viciosos e de soldados de presídio.

Já os africanos, ele chamava de heróis.

Heróis.

Hoje, nada disso é novidade para a gente.

Mas ele fez isso lá na virada do século,

quando as autoridades e mesmo a academia só via um negro de uma forma,

como um problema a ser resolvido.

Por isso que o Quirino é tido como o primeiro intelectual brasileiro

a tratar positivamente o africano e o afrodescendente na nossa história.

A reconhecer o protagonismo das pessoas negras na formação do Brasil.

E por isso que a gente decidiu dar ao projeto o nome do Quirino.

Não porque o projeto é todo sobre ele, e a essa altura você já sabe que não é,

mas como uma forma de menção, de homenagem.

De reconhecimento a alguém que veio antes e que abriu os caminhos.

Um homem negro, nascido 37 anos antes da abolição,

que possibilitou toda essa revolução.

E tudo isso porque a uma criança negra foi dada a chance de estudar.

Certamente ele tentou incluir,

ou melhor, conseguiu incluir o africano na história do Brasil,

sim, e de forma positiva.

Porque imagens do negro sempre existiam,

mas geralmente eram como uma péssima influência.

Ele foi um educador porque era professor,

ele produziu livros de doutorado,

ele foi um professor, ele foi um professor,

porque era professor, ele produziu livros didáticos,

mas também, ao meu ver, ele queria educar,

ou instruir os brasileiros sobre o papel e a cultura dos africanos.

E também porque ele acreditava no valor da educação.

Além de pioneiro nas pesquisas da antropologia culinária da Bahia,

o Manuel Quirino foi um dos precursores dos estudos sobre o candomblé.

Mas apesar de tudo isso, de tudo que a gente citou aqui,

ele hoje não é tão lembrado ou reconhecido quanto deveria.

Infelizmente, eu tenho que dizer, e parece simplório,

mas se Manuel Quirino não é reconhecido ou conhecido como deveria,

é puro preconceito.

Ele era um apaixonado pela educação,

e ele usava a sua própria história de vida como referência.

Ele fez questão de colocar a sua biografia no prefácio de suas obras,

porque ele acreditava que a instrução era a única maneira de fazer o negro progredir.

Esse ideal da educação como forma de ascensão

foi central para todos os movimentos negros que surgiram no pós-abolição.

Era um dos pilares da Frente Negra brasileira, por exemplo,

fundada em 1931.

O jornal da Frente Negra fazia críticas constantes

não só à forma como as crianças negras eram tratadas nas escolas por professores brancos,

mas ao conteúdo dos livros didáticos que

têm dado ao negro a impressão de que os seus antepassados foram uns desgraçados

e de que os jovens negros, só por isso, têm de ser sempre uns vencidos.

A Frente Negra tinha uma escola própria e recebia não só crianças negras,

mas os filhos de imigrantes também.

Por exemplo, os filhos de japoneses que já começavam a se instalar na Liberdade, em São Paulo,

onde ficava a sede da Frente Negra.

Aliás, tem uma fala do professor Silvio Almeida que eu gosto muito.

Foi uma palestra que ele deu em 2018

e ele cita um texto clássico de um sociólogo negro, o Alberto Guerreiro Ramos.

O nome do texto é

Patologia Social do Branco Brasileiro.

Então, o Guerreiro Ramos começa a implicar com os autores que são até aliados,

que eles falam sobre o problema do negro no Brasil, né?

Florestan, tal.

Aí o Guerreiro Ramos fala assim,

o problema do Brasil não é o negro, não.

O problema é do negro, o problema é do branco.

É o branco que não quer se integrar.

E na educação isso fica muito evidente.

Quem sempre quis dividir, segregar, separar,

quem não aceitava que o filho tivesse um coleguinha negro na caríssima escola particular,

foi o branco.

Quem entregou a educação brasileira pra iniciativa privada na ditadura militar,

enfraquecendo ainda mais a já combalida educação pública,

foi o branco.

E, de novo, o negro não cruzou os braços, não esperou sentado.

Em 1995, quando o assassinato dos zumbidos palmares completou 300 anos,

os movimentos negros reuniram 30 mil pessoas em Brasília,

num 20 de novembro,

na marcha contra o racismo pela cidadania e a vida.

O movimento negro unificado entregou ao presidente da época,

o Fernando Henrique Cardoso, um documento histórico.

Tinha um diagnóstico da desigualdade no Brasil, mas também propostas.

Entre elas, o desenvolvimento de ações afirmativas pro acesso de negros

aos cursos profissionalizantes,

às universidades e às áreas de tecnologia de ponta.

Daí, em 96, o Ministério da Justiça fez um seminário

e o Marco Maciel, então vice-presidente da República, disse que

Em 2000, foi aprovada a primeira lei estadual de cotas.

No Rio de Janeiro, com 50% das vagas para egressos da rede pública.

Em 2003, a Universidade Estadual do Rio, a UERJ,

foi a primeira a aplicar cotas, para estudantes da rede pública,

para negros e para indígenas.

Naquele mesmo ano, a Universidade de Brasília, a UNB,

foi a primeira federal a adotar o sistema.

Também naquele ano, já na gestão do Luiz Inácio Lula da Silva,

foi sancionada uma lei que tornou obrigatório,

em todas as escolas de ensino médio e fundamental, públicas e particulares,

o ensino de história e cultura africana e afro-brasileiras.

Resultado de décadas de lutas e pressão dos movimentos negros.

Daí, o Democratas, o partido, entrou com mação no Supremo Tribunal Federal,

questionando a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa, das cotas.

Teve uma audiência pública no STF, antes da votação,

e um dos discursos foi da Sueli Carneiro,

ativista, filósofa, precursora do feminismo negro brasileiro.

A Sueli diz que estavam em jogo dois projetos distintos de nação,

um que estava ancorado no passado,

e um outro que dialogava com o futuro.

Os que vislumbram o futuro acreditam que se as condições históricas

nos conduzirão a um país em que a cor da pele ou a racialidade das pessoas

tornou-se fator gerador de desigualdades,

essas condições não estão escritas no DNA nacional,

pois são produto da ação ou inação de seres humanos,

e, por isso mesmo, podem ser transformadas intencionalmente

pela ação dos seres humanos de hoje.

É o que esperamos dessa Suprema Corte.

Que ela seja parceira e protagonista de um processo de aprofundamento

da democracia, da igualdade e da liberdade.

E da igualdade e da justiça social.

Por unanimidade, os ministros do STF

decidiram que as políticas de ação afirmativa são constitucionais.

Unanimidade.

Tinha um único ministro negro naquela sessão.

Ele também é a única pessoa negra brasileira a já ter ocupado

a presidência do STF, o Joaquim Barbosa.

É natural, portanto, que as ações afirmativas,

os partidos, mecanismo concebido com vistas a quebrar

essa dinâmica perversa, sofram o influxo dessas forças contrapostas

e atraem considerável resistência, sobretudo, é claro,

da parte daqueles que historicamente se beneficiam

ou se beneficiaram da discriminação de que são vítimas

os grupos minoritários.

Talvez você não tenha aprendido na escola,

mas você sabe qual foi a primeira lei de cotas do ensino brasileiro?

Uma lei de 1968, da ditadura,

que reservava metade das vagas nas escolas técnicas de ensino médio

e nas faculdades, nos cursos de agronomia e veterinária,

para candidatos que comprovassem relação com a agropecuária.

Na prática, quem a lei acabou beneficiando foram os filhos

dos grandes proprietários rurais, a elite branca rural.

Agro é tudo, agro é pop.

Em 1985, com o início da redemocratização,

essa lei foi revogada.

Bom, mas voltando a 2012, depois que o STF confirmou

a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa no ensino,

a então presidente Dilma sancionou a chamada lei de cotas

e é a lei que está em vigor desde então.

E um monte de gente fala um monte de bobagem sobre essa lei.

Fala, por exemplo, que não concorda com ela porque as cotas deveriam ser

sociais, mas não raciais.

Só que as cotas já são sociais.

O primeiro corte é o seguinte.

Metade das vagas devem ser para estudantes das escolas públicas.

Daí dentro dessa fatia, dentro dessa fatia,

é que são reservadas as vagas para negros, indígenas e pessoas com deficiência,

proporcionalmente de acordo com a porcentagem desses grupos

em cada um dos estados.

Mas é só uma parte desses 50%.

Ou seja, uma pessoa branca, pobre, que estuda em colégio público

está contemplada.

Ela tem a outra parte desses 50% que foram reservados para egressos

da rede pública.

Só que a turma contrária vai ficar espalhando mentira sempre,

porque é isso que eles fazem.

Eles vão ficar usando isso e o ódio para criticar não só as cotas,

mas o Fies, o ProUni, enfim.

Qualquer coisa que tente tornar o acesso a oportunidades menos desigual.

O Manoa querendo viu uma grande massa de pessoas

que não tinham instituição e muitos que nem tinham ofício.

Aqui de novo a Sabrina Gladhill, que pesquisa a vida e a obra do Manuel Quirino.

Ela tem um livro que analisa a trajetória do Quirino

junto com a do Booker T. Washington,

um ex-escravizado estadunidense que também fez da educação

e da elevação da população negra por meio da educação, metas de vida.

Então, o que eles pensaram era tentar seguir os padrões europeus,

do que era civilizado, do que era culto,

e colocar o negro nesses conformes.

A tragédia disso tudo é que eles acreditavam piamente

que a maneira de superar os estereótipos e o preconceito

era mostrar que não era nada disso, que o negro não era nada disso,

que tinham negros cultos inteligentes, intelectuais.

Mas isso só conseguiu ensandecer os racistas,

porque eles viam isso como uma ameaça.

Olha, a minha mãe sempre teve uma coisa.

E, de novo aqui, o Davi Pereira Jr.,

que aprendeu a ler e a escrever com a mãe dele

lá na comunidade quilombola.

Porque ela sempre dizia, cara, é muito difícil

e universidade é coisa para branco.

Preto para entrar na universidade é muito difícil,

porque ela trabalhava na casa de uma pessoa

e ela disse que o vestibular ia sair numa segunda-feira.

Na sexta-feira, eles já sabiam que o filho tinha entrado na universidade.

Então, ela ficou com isso.

Cara, para a gente é muito difícil,

porque essa elite controla a entrada na universidade.

Mas a preocupação dela era da educação,

da oportunidade de você ler, de você estudar.

Em 2021, o número de inscritos no Enem foi o menor desde 2005.

Os estudantes negros, que tinham sido 63% dos inscritos em 2020,

passaram para 56%.

E os brancos subiram de 35% em 2010.

Isso por causa de uma regra que o governo Bolsonaro criou,

de que os candidatos que faltaram à edição de 2020,

aquela que foi no meio da pandemia,

essas pessoas que faltaram não teriam direito à gratuidade da inscrição.

Por causa disso, houve uma queda de 77%

no número de inscritos com renda familiar de até 3 salários mínimos.

Já entre os que pagam a inscrição,

teve um aumento de 17% no número de inscritos

com renda familiar de até 3 salários mínimos.

A população teve um aumento de 39%.

A olhos vistos, a gestão Bolsonaro foi cumprindo a promessa

de barrar o filho do porteiro, da empregada doméstica,

e de devolver os descendentes dos senhores

ao seu lugar de absoluto e irrestrito privilégio.

O que seria do Brasil sem Manuel Quirino,

sem Maria Firmina dos Reis,

sem Machado de Assis, sem Sueli Carneiro?

Quantos talentos brasileiros já não se perderam?

Quantos ainda se perdem e quantos se perderão?

Simplesmente por oportunidades que estão sendo negadas.

O que seria do Brasil sem o Brasil?

Sem o Brasil?

Negadas.

Tem uma cientista e professor incrível de física,

o nome dela é Katemari Rosa,

e uma vez ela me falou uma coisa que eu nunca esqueci.

A gente não precisa de muito incentivo

para encontrar genialidades entre as pessoas negras.

A gente só precisa é que não nos barrem,

não nos matem,

não nos tirem dos espaços.

O projeto Quirino é apoiado pelo Instituto Ibiraputanga.

O podcast é produzido pela Rádio Novelo.

O nosso site, projetoquirino.com.br,

reúne todas as informações sobre o projeto e conteúdo adicional.

O site foi desenvolvido pela AIE.

E eu te convido a conferir também todo o material do projeto Quirino

que está sendo publicado pela revista Piauí,

nas bancas e no site da revista.

O nosso site é o Instituto Ibiraputanga.

O nosso site é o Instituto Ibiraputanga.

O nosso site é o Instituto Ibiraputanga.

As pessoas que participaram foram Guilherme Póvoas e o Rodolfo Viana.

A locução foi gravada no estúdio da Pipoca Sound

com trabalhos técnicos de Luiz Rodrigues.

Consultoria em roteiro de Mariana Jaspe,

Consultoria em roteiro de Mariana Jaspe,

Paula Escarpim e Flora Thompson Devoe

com revisão de Natália Silva.

Consultoria em história Inaê Lopes dos Santos.

Consultoria em história Inaê Lopes dos Santos.

Produção executiva Guilherme Alpendre.

A execução financeira do projeto é do ISPIS,

Instituto Sincronicidade para a Interação Social.

Idealização, reportagem, roteiro, aprendizado.

Apresentação e coordenação, Tiago Rogero.

Este episódio usou áudios de TV Globo,

Este episódio usou áudios de TV Globo,

SBT, Record, Globo News, Band News TV

e dos canais do STF e do Centro de Formação da Vila no YouTube.

e dos canais do STF e do Centro de Formação da Vila no YouTube.

Agradecimentos a Dilercia Adler,

ao Agenor Gomes,

a Anitta Machado

e ao Instituto da Coralcaso.

Até o próximo!

Legendas pela comunidade Amara.org

4. O colono preto - Part 2 4. Der schwarze Siedler - Teil 2 4. The Black Settler - Part 2 4. Le colon noir - Partie 2 4. Czarny osadnik - część 2 4. Den svarta nybyggaren - Del 2 4. Siyah yerleşimci - Bölüm 2

Resumindo muito, o Paraguai era governado por um ditador, o Brasil interveio numa disputa pelo poder que estava rolando lá no Uruguai,

uma parte da Argentina acabou sendo invadida pelo Paraguai no meio dessa confusão toda,

daí os três países, Brasil, Uruguai e Argentina, se juntaram contra o Paraguai.

E o nosso menino, agora um adolescente, acabou recrutado pra essa guerra.

Foi enviado primeiro pra Pernambuco, depois acabou no batalhão no Rio de Janeiro,

mas quando descobriram que ele sabia ler e escrever, ele ficou lá, não mandaram pra frente.

Onde muita gente morreu ou voltou sem um braço, sem uma perna.

O rapaz conseguiu liberação do exército e voltou pra Bahia.

Quando ele voltou pra Bahia, ele passou a trabalhar como pintor decorador,

pra poder buscar os estudos quando eu estudava à noite.

Ele acabou sendo aluno fundador da Escola de Belas Artes.

Foi aluno fundador do Liceu de Artes e Ofícios,

e o nome dele está lá na relação dos alunos fundadores da escola.

Por toda a vida adulta, ele foi professor, principalmente de desenho geométrico.

Foi sindicalista também e fundou dois jornais.

Foi carnavalesco um dos diretores de um grupo afro chamado Pandegus da África.

Você vê que é difícil resumir a vida dele.

E num determinado momento, ele começou a escrever.

Ele escreveu dois textos sobre desenho geométrico que foram usados nas escolas.

Escreveu um livro de folclore, A Bahia de Outrora,

que acho que o livro dele, que é mais conhecido fora do Brasil.

Começou a escrever sobre a história da arte,

escreveu dois livros, A Arte na Bahia e Os Artistas Baianos.

Ele escreveu muita coisa.

O nome dele,

Emanuel Raimundo Quirino.

Um intelectual negro que também foi militante,

foi jornalista, foi abolicionista, foi líder operário,

foi político, foi vereador, foi funcionário público.

E isso foi antes que ele começou a escrever,

porque ele só começou a publicar livros depois de se aposentar.

Aí ele foi o primeiro historiador da arte baiana,

ele foi o pioneiro dos estudos da antropologia culinária da Bahia.

O que mais me interessa é que ele também foi o primeiro negro,

o primeiro intelectual negro a reivindicar a contribuição positiva

do africano e seus descendentes à civilização brasileira.

O que mais me interessa é que ele também foi o primeiro negro a reivindicar a contribuição positiva

do africano e seus descendentes à civilização brasileira.

Porque ele exigiu respeito pelo africano e o afrodescendente,

que eu sinto que é o que ele sentia falta na própria vida também.

Porque quando ele não era tratado com preconceito,

era tratado com paternalismo, que é o lado inverso da moeda.

Nenhum dos dois lados é bom.

O que mais me interessa é que ele exigiu a ideia do racismo dito científico.

Eu uso o dito científico porque não tinha comprovação científica nenhuma.

Era um monte de racista entendido pela sociedade da época como cientista

por causa dos diplomas que tinham,

espalhando um monte de teoria furada sem conseguir provar.

Mas fazia isso de forma rebuscada, abusando do academiquês, enfim.

Era balela travestida de ciência.

Os cientistas achavam que o negro e o mestiço estavam fadados a sumir

porque eles pensavam,

indo completamente contra todas as regras da botânica e da biologia,

que mistura enfraquecesse

e que o negro e o africano não conseguiriam resistir

frente à, entre aspas, superioridade da civilização branca.

Agora, eles estavam se baseando em quê?

Um sistema de escavatura

onde, em vez de criar novos negros engravidando as mulheres escravizadas,

eles importavam porque era mais econômico para eles.

Eles matavam os escravos de maus tratos,

de tanto trabalho, das péssimas condições de trabalho.

Então, a conclusão dos racialistas foi porque era por causa de fraqueza,

de não suportar a suposta superioridade da civilização branca.

Mas, como podemos ver, a situação foi bem contrária.

O negro resistiu e está presente até hoje.

E foi aí que Manuel Quirino entrou,

porque, quando ele começou a trabalhar, a fazer suas pesquisas,

ele quis usar seu próprio exemplo para mostrar que essa ideia,

esse estereótipo do negro como boçal ou burro

era justamente por falta de oportunidade de estudar.

Jogando o jogo dos brancos, o Quirino foi derrubando os argumentos.

Aliás, um outro nome importantíssimo no combate ao racismo dito científico

foi o Juliano Moreira,

o genial médico negro que revolucionou a psiquiatria brasileira.

E a forma como ele combateu esse racismo

foi na arena do conhecimento científico mesmo,

da ciência, derrubando cada falácia com dados, com estudo.

O Quirino já tinha uma pegada mais da história,

da construção da imagem do negro, da construção de memória.

Os dois tiveram uma atuação importantíssima na luta contra o racismo,

cada um na sua área.

Tem um texto do Manuel Quirino, de 1918,

que é um dos documentos mais incríveis que eu já li.

Começa pelo nome.

O colono preto como fator da civilização brasileira.

Olha a palavra que ele escolheu.

Colono.

Colono é aquele que habita uma colônia, que é membro, que é parte de uma colônia.

O Quirino estava colocando o negro para dentro da história oficial.

Não como escravizado subserviente, sem agência, sem conhecimento,

que só servia para executar ordens.

Mas como parte do todo.

E uma parte crucial.

Como protagonista.

Nesse livro, ele escreveu o quê?

O colono preto é a principal figura, o fator máximo da nossa riqueza econômica,

fonte da organização nacional.

Que foi o trabalho do negro que aqui sustentou por séculos

a nobreza e a propriedade do Brasil.

Foi com o produto do seu trabalho que tivemos as instituições científicas,

letras, artes, comércio, indústria, etc.,

competindo-lhe, portanto, um lugar de destaque

como fator da civilização brasileira.

Mas calma que tem mais.

Ele cita o nome de vários intelectuais negros, como o Machado de Assis,

a Família Rebouças, o José do Patrocínio e o Cruz de Souza,

e escreve que eles representam

o que há de mais seleto nas afirmações do saber,

verdadeiras glórias da nação.

O Manuel Quirino dizia que o Brasil possui duas grandezas reais,

a uberdade do solo, a abundância, né?

E uma abundância fértil, fecunda.

Bom, mas a uberdade do solo e o talento do mestiço.

E o Quirino também foi bem direto ao tratar dos senhores brancos,

dizendo que eram dotados de cobiça, de parasitismo.

E que, fora os funcionários da alta administração,

as primeiras levas de colonos portugueses eram de degredados,

de indivíduos viciosos e de soldados de presídio.

Já os africanos, ele chamava de heróis.

Heróis.

Hoje, nada disso é novidade para a gente.

Mas ele fez isso lá na virada do século,

quando as autoridades e mesmo a academia só via um negro de uma forma,

como um problema a ser resolvido.

Por isso que o Quirino é tido como o primeiro intelectual brasileiro

a tratar positivamente o africano e o afrodescendente na nossa história.

A reconhecer o protagonismo das pessoas negras na formação do Brasil.

E por isso que a gente decidiu dar ao projeto o nome do Quirino.

Não porque o projeto é todo sobre ele, e a essa altura você já sabe que não é,

mas como uma forma de menção, de homenagem.

De reconhecimento a alguém que veio antes e que abriu os caminhos.

Um homem negro, nascido 37 anos antes da abolição,

que possibilitou toda essa revolução.

E tudo isso porque a uma criança negra foi dada a chance de estudar.

Certamente ele tentou incluir,

ou melhor, conseguiu incluir o africano na história do Brasil,

sim, e de forma positiva.

Porque imagens do negro sempre existiam,

mas geralmente eram como uma péssima influência.

Ele foi um educador porque era professor,

ele produziu livros de doutorado,

ele foi um professor, ele foi um professor,

porque era professor, ele produziu livros didáticos,

mas também, ao meu ver, ele queria educar,

ou instruir os brasileiros sobre o papel e a cultura dos africanos.

E também porque ele acreditava no valor da educação.

Além de pioneiro nas pesquisas da antropologia culinária da Bahia,

o Manuel Quirino foi um dos precursores dos estudos sobre o candomblé.

Mas apesar de tudo isso, de tudo que a gente citou aqui,

ele hoje não é tão lembrado ou reconhecido quanto deveria.

Infelizmente, eu tenho que dizer, e parece simplório,

mas se Manuel Quirino não é reconhecido ou conhecido como deveria,

é puro preconceito.

Ele era um apaixonado pela educação,

e ele usava a sua própria história de vida como referência.

Ele fez questão de colocar a sua biografia no prefácio de suas obras,

porque ele acreditava que a instrução era a única maneira de fazer o negro progredir.

Esse ideal da educação como forma de ascensão

foi central para todos os movimentos negros que surgiram no pós-abolição.

Era um dos pilares da Frente Negra brasileira, por exemplo,

fundada em 1931.

O jornal da Frente Negra fazia críticas constantes

não só à forma como as crianças negras eram tratadas nas escolas por professores brancos,

mas ao conteúdo dos livros didáticos que

têm dado ao negro a impressão de que os seus antepassados foram uns desgraçados

e de que os jovens negros, só por isso, têm de ser sempre uns vencidos.

A Frente Negra tinha uma escola própria e recebia não só crianças negras,

mas os filhos de imigrantes também.

Por exemplo, os filhos de japoneses que já começavam a se instalar na Liberdade, em São Paulo,

onde ficava a sede da Frente Negra.

Aliás, tem uma fala do professor Silvio Almeida que eu gosto muito.

Foi uma palestra que ele deu em 2018

e ele cita um texto clássico de um sociólogo negro, o Alberto Guerreiro Ramos.

O nome do texto é

Patologia Social do Branco Brasileiro.

Então, o Guerreiro Ramos começa a implicar com os autores que são até aliados,

que eles falam sobre o problema do negro no Brasil, né?

Florestan, tal.

Aí o Guerreiro Ramos fala assim,

o problema do Brasil não é o negro, não.

O problema é do negro, o problema é do branco.

É o branco que não quer se integrar.

E na educação isso fica muito evidente.

Quem sempre quis dividir, segregar, separar,

quem não aceitava que o filho tivesse um coleguinha negro na caríssima escola particular,

foi o branco.

Quem entregou a educação brasileira pra iniciativa privada na ditadura militar,

enfraquecendo ainda mais a já combalida educação pública,

foi o branco.

E, de novo, o negro não cruzou os braços, não esperou sentado.

Em 1995, quando o assassinato dos zumbidos palmares completou 300 anos,

os movimentos negros reuniram 30 mil pessoas em Brasília,

num 20 de novembro,

na marcha contra o racismo pela cidadania e a vida.

O movimento negro unificado entregou ao presidente da época,

o Fernando Henrique Cardoso, um documento histórico.

Tinha um diagnóstico da desigualdade no Brasil, mas também propostas.

Entre elas, o desenvolvimento de ações afirmativas pro acesso de negros

aos cursos profissionalizantes,

às universidades e às áreas de tecnologia de ponta.

Daí, em 96, o Ministério da Justiça fez um seminário

e o Marco Maciel, então vice-presidente da República, disse que

Em 2000, foi aprovada a primeira lei estadual de cotas.

No Rio de Janeiro, com 50% das vagas para egressos da rede pública.

Em 2003, a Universidade Estadual do Rio, a UERJ,

foi a primeira a aplicar cotas, para estudantes da rede pública,

para negros e para indígenas.

Naquele mesmo ano, a Universidade de Brasília, a UNB,

foi a primeira federal a adotar o sistema.

Também naquele ano, já na gestão do Luiz Inácio Lula da Silva,

foi sancionada uma lei que tornou obrigatório,

em todas as escolas de ensino médio e fundamental, públicas e particulares,

o ensino de história e cultura africana e afro-brasileiras.

Resultado de décadas de lutas e pressão dos movimentos negros.

Daí, o Democratas, o partido, entrou com mação no Supremo Tribunal Federal,

questionando a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa, das cotas.

Teve uma audiência pública no STF, antes da votação,

e um dos discursos foi da Sueli Carneiro,

ativista, filósofa, precursora do feminismo negro brasileiro.

A Sueli diz que estavam em jogo dois projetos distintos de nação,

um que estava ancorado no passado,

e um outro que dialogava com o futuro.

Os que vislumbram o futuro acreditam que se as condições históricas

nos conduzirão a um país em que a cor da pele ou a racialidade das pessoas

tornou-se fator gerador de desigualdades,

essas condições não estão escritas no DNA nacional,

pois são produto da ação ou inação de seres humanos,

e, por isso mesmo, podem ser transformadas intencionalmente

pela ação dos seres humanos de hoje.

É o que esperamos dessa Suprema Corte.

Que ela seja parceira e protagonista de um processo de aprofundamento

da democracia, da igualdade e da liberdade.

E da igualdade e da justiça social.

Por unanimidade, os ministros do STF

decidiram que as políticas de ação afirmativa são constitucionais.

Unanimidade.

Tinha um único ministro negro naquela sessão.

Ele também é a única pessoa negra brasileira a já ter ocupado

a presidência do STF, o Joaquim Barbosa.

É natural, portanto, que as ações afirmativas,

os partidos, mecanismo concebido com vistas a quebrar

essa dinâmica perversa, sofram o influxo dessas forças contrapostas

e atraem considerável resistência, sobretudo, é claro,

da parte daqueles que historicamente se beneficiam

ou se beneficiaram da discriminação de que são vítimas

os grupos minoritários.

Talvez você não tenha aprendido na escola,

mas você sabe qual foi a primeira lei de cotas do ensino brasileiro?

Uma lei de 1968, da ditadura,

que reservava metade das vagas nas escolas técnicas de ensino médio

e nas faculdades, nos cursos de agronomia e veterinária,

para candidatos que comprovassem relação com a agropecuária.

Na prática, quem a lei acabou beneficiando foram os filhos

dos grandes proprietários rurais, a elite branca rural.

Agro é tudo, agro é pop.

Em 1985, com o início da redemocratização,

essa lei foi revogada.

Bom, mas voltando a 2012, depois que o STF confirmou

a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa no ensino,

a então presidente Dilma sancionou a chamada lei de cotas

e é a lei que está em vigor desde então.

E um monte de gente fala um monte de bobagem sobre essa lei.

Fala, por exemplo, que não concorda com ela porque as cotas deveriam ser

sociais, mas não raciais.

Só que as cotas já são sociais.

O primeiro corte é o seguinte.

Metade das vagas devem ser para estudantes das escolas públicas.

Daí dentro dessa fatia, dentro dessa fatia,

é que são reservadas as vagas para negros, indígenas e pessoas com deficiência,

proporcionalmente de acordo com a porcentagem desses grupos

em cada um dos estados.

Mas é só uma parte desses 50%.

Ou seja, uma pessoa branca, pobre, que estuda em colégio público

está contemplada.

Ela tem a outra parte desses 50% que foram reservados para egressos

da rede pública.

Só que a turma contrária vai ficar espalhando mentira sempre,

porque é isso que eles fazem.

Eles vão ficar usando isso e o ódio para criticar não só as cotas,

mas o Fies, o ProUni, enfim.

Qualquer coisa que tente tornar o acesso a oportunidades menos desigual.

O Manoa querendo viu uma grande massa de pessoas

que não tinham instituição e muitos que nem tinham ofício.

Aqui de novo a Sabrina Gladhill, que pesquisa a vida e a obra do Manuel Quirino.

Ela tem um livro que analisa a trajetória do Quirino

junto com a do Booker T. Washington,

um ex-escravizado estadunidense que também fez da educação

e da elevação da população negra por meio da educação, metas de vida.

Então, o que eles pensaram era tentar seguir os padrões europeus,

do que era civilizado, do que era culto,

e colocar o negro nesses conformes.

A tragédia disso tudo é que eles acreditavam piamente

que a maneira de superar os estereótipos e o preconceito

era mostrar que não era nada disso, que o negro não era nada disso,

que tinham negros cultos inteligentes, intelectuais.

Mas isso só conseguiu ensandecer os racistas,

porque eles viam isso como uma ameaça.

Olha, a minha mãe sempre teve uma coisa.

E, de novo aqui, o Davi Pereira Jr.,

que aprendeu a ler e a escrever com a mãe dele

lá na comunidade quilombola.

Porque ela sempre dizia, cara, é muito difícil

e universidade é coisa para branco.

Preto para entrar na universidade é muito difícil,

porque ela trabalhava na casa de uma pessoa

e ela disse que o vestibular ia sair numa segunda-feira.

Na sexta-feira, eles já sabiam que o filho tinha entrado na universidade.

Então, ela ficou com isso.

Cara, para a gente é muito difícil,

porque essa elite controla a entrada na universidade.

Mas a preocupação dela era da educação,

da oportunidade de você ler, de você estudar.

Em 2021, o número de inscritos no Enem foi o menor desde 2005.

Os estudantes negros, que tinham sido 63% dos inscritos em 2020,

passaram para 56%.

E os brancos subiram de 35% em 2010.

Isso por causa de uma regra que o governo Bolsonaro criou,

de que os candidatos que faltaram à edição de 2020,

aquela que foi no meio da pandemia,

essas pessoas que faltaram não teriam direito à gratuidade da inscrição.

Por causa disso, houve uma queda de 77%

no número de inscritos com renda familiar de até 3 salários mínimos.

Já entre os que pagam a inscrição,

teve um aumento de 17% no número de inscritos

com renda familiar de até 3 salários mínimos.

A população teve um aumento de 39%.

A olhos vistos, a gestão Bolsonaro foi cumprindo a promessa

de barrar o filho do porteiro, da empregada doméstica,

e de devolver os descendentes dos senhores

ao seu lugar de absoluto e irrestrito privilégio.

O que seria do Brasil sem Manuel Quirino,

sem Maria Firmina dos Reis,

sem Machado de Assis, sem Sueli Carneiro?

Quantos talentos brasileiros já não se perderam?

Quantos ainda se perdem e quantos se perderão?

Simplesmente por oportunidades que estão sendo negadas.

O que seria do Brasil sem o Brasil?

Sem o Brasil?

Negadas.

Tem uma cientista e professor incrível de física,

o nome dela é Katemari Rosa,

e uma vez ela me falou uma coisa que eu nunca esqueci.

A gente não precisa de muito incentivo

para encontrar genialidades entre as pessoas negras.

A gente só precisa é que não nos barrem,

não nos matem,

não nos tirem dos espaços.

O projeto Quirino é apoiado pelo Instituto Ibiraputanga.

O podcast é produzido pela Rádio Novelo.

O nosso site, projetoquirino.com.br,

reúne todas as informações sobre o projeto e conteúdo adicional.

O site foi desenvolvido pela AIE.

E eu te convido a conferir também todo o material do projeto Quirino

que está sendo publicado pela revista Piauí,

nas bancas e no site da revista.

O nosso site é o Instituto Ibiraputanga.

O nosso site é o Instituto Ibiraputanga.

O nosso site é o Instituto Ibiraputanga.

As pessoas que participaram foram Guilherme Póvoas e o Rodolfo Viana.

A locução foi gravada no estúdio da Pipoca Sound

com trabalhos técnicos de Luiz Rodrigues.

Consultoria em roteiro de Mariana Jaspe,

Consultoria em roteiro de Mariana Jaspe,

Paula Escarpim e Flora Thompson Devoe

com revisão de Natália Silva.

Consultoria em história Inaê Lopes dos Santos.

Consultoria em história Inaê Lopes dos Santos.

Produção executiva Guilherme Alpendre.

A execução financeira do projeto é do ISPIS,

Instituto Sincronicidade para a Interação Social.

Idealização, reportagem, roteiro, aprendizado.

Apresentação e coordenação, Tiago Rogero.

Este episódio usou áudios de TV Globo,

Este episódio usou áudios de TV Globo,

SBT, Record, Globo News, Band News TV

e dos canais do STF e do Centro de Formação da Vila no YouTube.

e dos canais do STF e do Centro de Formação da Vila no YouTube.

Agradecimentos a Dilercia Adler,

ao Agenor Gomes,

a Anitta Machado

e ao Instituto da Coralcaso.

Até o próximo!

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