O Maravilhoso desafio do crescimento interior
Olá, pessoal, sejam todos muito bem-vindos a mais um podcast filosófico, atividade que
é promovida pela Organização Internacional Nova Acrópole do Brasil.
Para a nossa conversa de hoje, recebemos o professor voluntário da Nova Acrópole de
São Caetano do Sul, em São Paulo, José Roberto.
Seja muito bem-vindo.
Olá, Danilo.
É uma grande alegria estar aqui com você novamente e com todas as pessoas que nos ouvem
para podermos trocar algumas reflexões filosóficas.
Em nosso podcast de hoje, vamos falar sobre o maravilhoso desafio do crescimento interior.
Naturalmente que nós não vamos esgotar o tema, nossa ideia não é essa, e muito menos
trazer aqui verdades absolutas, muito pelo contrário.
A gente vai conversar, refletir e, claro, extrair ideias que sejam práticas e, portanto,
para nós em nossas vidas.
Esse é um tema bastante complexo, José Roberto, porque nós falamos muito em crescimento econômico,
crescimento demográfico, crescimento social, porém esquecemos o principal, que é o indivíduo,
aquele que pensa por si próprio, aquele que reflete, aquele que é consciente dentro de
um Estado, como nos ensina Platão, e também como nos ensina Confúcio, ou seja, o indivíduo
é aquele que tem consciência das suas ações, é aquele que vai oferecer para a sociedade
o seu melhor, e tudo começa no indivíduo.
E justamente nesse sentido é a pergunta que eu te faço, o que seria esse crescimento
interior, o que é crescer internamente, segundo o ponto de vista da filosofia?
Danilo, nós poderíamos começar dizendo que a atitude filosófica é uma condição natural
do ser humano.
Muitas vezes nós pensamos que por estarmos na idade da razão, o domínio do nosso mundo
exterior e do nosso mundo interior é algo que vem justamente dessa razão, ou do exercício,
ou do bom exercício dessa razão.
E em parte é por aí mesmo, eu acho que é a nossa característica atual, é algo que
nós nos destacamos aí em toda a história, mas nós percebemos que apesar das nossas
sociedades atuais, com toda a boa vontade, através do exercício do pensamento infinito,
da muito abrangente descrição de todos os problemas, tanto sociais como individuais,
a nível social, a nível político, nós percebemos que nós não conseguimos resolver
os problemas da nossa civilização atual.
E é muito interessante que muitas vezes, chegados à nossa escola de filosofia, as
pessoas chegam com essa ideia realmente de porque nós construímos uma sociedade muito
avançada, muito tecnológica, uma máquina que aparentemente parece funcionar perfeitamente.
Vivemos num momento em que alcançamos uma boa condição do desenvolvimento médico,
por exemplo, das viagens ou dos satélites que nós colocamos em órbita, o que possibilitou
uma possibilidade de comunicação global.
Em poucos momentos, uma pessoa na América sabe perfeitamente de algo que está acontecendo
no Oriente, se bem que nem sempre as notícias que hoje correm o mundo na velocidade desses
impulsos eletrônicos sejam notícias que, de certa maneira, acrescentam algo para o
ser humano.
Então, nós vamos percebendo que muitos dos problemas da nossa civilização atual, apesar
de nós termos desenvolvido muito essa questão de ter perfeitamente catalogado quais são
os problemas, estar à vista, à mão e ao alcance de todos, ainda assim nós percebemos
que falta nas pessoas uma motivação para não simplesmente ficar esperando que alguma
espécie de benefício, alguma espécie de milagre, alguma espécie de revolução dê
conta desses problemas.
Então nós percebemos que o dilema do ser humano hoje é que nós temos uma… deu realmente
aquele boom em termos de avanços tecnológicos, em termos de ótima descrição do nosso mundo,
do universo, das problemáticas das nossas sociedades, das problemáticas humanas, só
que esse avanço não significou uma proporcional capacidade das pessoas se movimentarem para
que possam, de alguma maneira, também contribuir de uma maneira mais ativa para a solução,
a resolução desses problemas.
Então hoje, em muitos países do mundo, nós temos uma tecnologia bastante avançada, principalmente
nos grandes centros urbanos, mas nós também percebemos que nesses mesmos centros urbanos
com muita tecnologia, com o avanço e o domínio das redes sociais, não é incomum nós encontrarmos
as pessoas se queixando de solidão, as pessoas se queixando de uma frieza perante os demais,
as pessoas se queixando de não serem tratadas com os devidos direitos, com o devido respeito,
as pessoas se queixando cada vez mais abertamente de que os adultos, os jovens e as crianças
são discriminados ou no seu ambiente escolar, ou no seu ambiente social, ou no seu ambiente
de trabalho.
Às vezes, os desrespeitos se dão dentro das próprias famílias por questões de divergências
religiosas ou divergências políticas.
Então é isso, é apenas mais um item.
Seria muito exaustivo nós elucidarmos alguns dos problemas que nós vamos, pouco a pouco,
recitando, percebendo na nossa sociedade, nem precisa ser um grande Sherlock Holmes
ou muito filosófico para perceber que esses problemas hoje não são somente meus ou da
minha família ou das famílias que vivem próximas a mim ou da minha cidade ou do meu país.
São os problemas que tomaram uma espécie de relevância, de presença muito abrangente.
Nós percebemos justamente que, voltando a repetir a questão, que nós nos tornamos
tecnologicamente avançados, nós nos tornamos capazes com a nossa mente, com o nosso intelecto,
com o nosso pensamento de descrever os diversos e complexos problemas que existem na nossa
sociedade, mas nós ainda não nos tornamos capazes de olhar para nós mesmos e descobrirmos
dentro de nós a força e a capacidade, a imaginação, o conhecimento ou o sentimento
que nos leve a nos sentirmos mais responsáveis pela natureza, pelo nosso mundo, para que
nós também possamos aportar de certa maneira aquilo que nos torna mais humanos.
Então de certa maneira, esses grandes filósofos, essas grandes tradições, eles nos falam
de uma coisa que é muito atual hoje em dia, que é uma capacidade do ser humano conhecer-se
interiormente até para conhecer quais são os elementos que o impedem de acessar os seus
próprios motores interiores e se sentir não só responsável por muitos desses problemas
que acontecem não num país distante, mas no nosso lado, e sentir que com isso ele aporta
de uma maneira bastante progressiva, de uma maneira bastante prática mesmo, de uma maneira
bastante vivencial.
Existem coisas que nos impedem, como os nossos medos, as nossas vergonhas, a nossa falta
de conhecimento para resolver certas questões e muitos outros elementos que apesar da nossa
civilização muito avançada, nós ainda não conseguimos resolver essas questões que não
estão relacionadas com o meio ambiente onde nós vivemos, a sociedade onde nós vivemos,
mas com elementos dentro de nós mesmos.
Basicamente, se nós pudermos repetir, nem filósofos muito atuais, mas até os atuais
estão falando sobre isso, e até muitos pensadores não necessariamente relacionados ao campo
filosófico, mas relacionados ao campo das necessidades humanas, como as necessidades
psicológicas ou as necessidades emocionais ou as necessidades intelectuais das pessoas,
já estão percebendo cada vez mais claramente isso, que falta ao ser humano algo que o leve
a superar esses limites para sentir e poder fazer e acontecer algo que sinta que está
participando de uma maneira construtiva da vida, da nossa própria vida.
Durante a sua fala, José Roberto, me veio uma reflexão que vai gerar uma pergunta para
você justamente nesse sentido, ou seja, tudo aquilo que é bom dentro de nós cresce por
consciência, ou seja, se eu tenho virtudes e valores e eu todos os dias atuo de maneira
prática em função desses valores e virtudes, eu me torno um ser humano melhor, ou seja,
eu sou mais generoso praticando a generosidade, não só estudando ou lendo sobre ela.
A mesma coisa acontece com os vícios, se eu não cuido dos vícios e todo ser humano
tem os seus defeitos, e isso é um processo também que é natural, eles podem crescer
e se expandir.
Então, é importante observar isso porque nós imaginamos que não há defeitos em nós,
e sim no outro.
Eu gostaria que você falasse dessa reflexão porque é muito importante ter consciência
de que nós temos os nossos defeitos e devemos lutar contra eles também para que a gente
seja de fato melhor.
Sim, Danilo, essa questão hoje não é tão simples de perceber porque, de certa maneira,
todos nós temos essa autoilusão que você colocou de, com uma boa visão, com uma visão
bastante arguta, bastante perspicaz, perceber realmente os defeitos do outro.
Às vezes eu vejo os defeitos da minha esposa ou vejo do meu marido, eu vejo do meu vizinho,
eu vejo do meu chefe, eu vejo do meu colega de trabalho, eu vejo dos políticos que conduzem
a minha própria sociedade, mas por uma ilusão eu não consigo muitas vezes ver aqueles que
me pertencem, aqueles que, digamos assim, eu já paguei, já estão pagos, a prestação
já foi vencida e estão dentro de mim.
Realmente é uma dificuldade.
E também, como colocamos aí, eles também crescem.
E é interessante, Danilo, que nós nem precisamos fazer força para eles crescerem porque, de
certa maneira, eles já fazem um pouco parte da nossa constituição.
Quando viemos ao mundo, se não somos feitos de metal ou de plástico, mas sim de carne
e osso, essas questões já vêm conosco porque são, de certa maneira, instintivas, são
próprias do nosso temperamento e, infelizmente, e isso filósofos como Platão, filósofos
como Confúcio e mesmo nos diálogos atribuídos a Sócrates, nós vamos ver isso, que o nosso
meio ambiente social acaba contribuindo, de certa maneira, para que esses elementos
não só sejam alimentados dentro de nós, mas que ainda se os tenha, de certa maneira,
como qualidades, como virtudes.
Então as nossas sociedades hoje, até por uma questão de sobrevivência física e biológica,
nós somos bastante competitivos.
E essa nossa competitividade acaba sendo incentivada desde que nós somos muito crianças.
Se nós vamos competir quando crianças, se as crianças vão competir numa competição
atlética com outros garotos, os pais já insuflam na criança que ela tem que vencer
a qualquer custo, que não tem nenhum problema se ela perder, mas que é melhor que ela saia
vitoriosa.
A mesma coisa acontece, por exemplo, na escola, no ginásio, no colégio ou na faculdade.
Nós temos que ser os melhores em tudo.
Todo ano nós temos que ser melhor que no ano anterior, porque nós temos que passar
à frente de todos os demais, garantir a nossa posição dentro da sociedade, porque não
é eu ou o outro, sou eu ou o outro, ou é o outro ou sou eu.
Então tudo isso vai nos dando uma espécie de visão competitiva.
A mesma coisa com relação à relação entre os parceiros, as parceiras, os amigos, as
amigas, os homens e as mulheres.
Nós percebemos então que a competitividade, cada vez mais, é uma dessas coisas que são
muito prevalentes nas nossas sociedades atuais, nas nossas grandes cidades e até mesmo nas
nossas pequenas cidades, nos países considerados muito desenvolvidos ou nos países considerados
pouco desenvolvidos.
E essa atmosfera social cabe exercebando muitos dos nossos defeitos interiores, das nossas
fragilidades interiores, os nossos medos de não estarmos à altura do que os desafios
nos pedem, o nosso egoísmo, como você bem colocou, de avançarmos a qualquer preço
sem atentarmos muito bem as pessoas que estão do nosso lado, as nossas ilusões e as nossas
fantasias de nos considerar que nessa luta pela sobrevivência nós temos que atropelar
os nossos afetos, nós temos que abrir mão da nossa humanidade, nós temos que abrir
mão do tempo de qualidade que nós passamos no contato com os nossos amigos, com as pessoas
que gostamos, no tempo de tranquilidade que nós poderíamos dedicar numa boa leitura,
numa audição para apreciar uma música, numa praia em que nós saíamos de férias
ou um fim de semana ou então numa caminhada.
Todas essas coisas acabam sendo sacrificadas por conta desse nosso medo, por conta desse
nosso egoísmo, por conta dessa nossa competitividade.
Então são elementos, Danilo, que crescem facilmente dentro do ser humano, basicamente
por essas duas questões, porque já vêm de uma maneira bastante instintiva conosco
e por conta das nossas sociedades, da configuração atual, das nossas sociedades atuais, são
extremamente motivados.
E isso porque nós, para não nos estendermos muito, só estamos mencionando essa questão
da competitividade, mas podemos citar muitos outros.
E diante do que você acabou de falar, José Roberto, sobretudo em especial, essa ideia
da competitividade que é colocada para as crianças, é ensinada, isso gera uma série
de problemas, porque se você ensina a competir, a ter medo, a ter desconfiança dos outros,
por exemplo, você vai gerando uma criança que vai se tornar um adulto com muitos medos,
com muitas desconfianças.
A gente imagina que um adulto frustrado, com uma série de problemáticas e inconsciência
da vida, ele se tornou assim do nada, por acaso.
Não, como nos ensina Pitágoras, ensinar é as crianças e não será necessário punir
aos homens e ensinar valores, virtudes, para que cresçamos com consciência e sendo melhores
e ofereçamos para a sociedade o melhor.
Agora dentro dessa reflexão, eu gostaria que você falasse sobre isso quando esse cenário
se demonstra cada vez mais comum, ou seja, o egoísmo tomando conta, é natural que cresça
mais o medo no ser humano, a competitividade, do que a coragem.
E no fundo não é o que nós queremos.
Danilo, tanto o medo como a coragem, eles são naturais do ser humano.
Na República, nós percebemos que em um determinado momento, quando Platão, através de Sócrates,
está dando os primeiros passos para a formação daquilo que ele considera uma cidade bem governada,
porque a questão de Platão é que quando uma cidade bem governada, uma cidade onde
as pessoas são realmente bons cidadãos, as pessoas são mais felizes, as pessoas são
menos competitivas, as pessoas conseguem colaborar umas com as outras.
Então tanto o indivíduo se sente seguro, como ele também se sente motivado a participar
do crescimento e do desenvolvimento da sua sociedade, sendo um bom exemplo para os jovens,
educando bem as crianças, moderando seus próprios apetites e vícios e chegando à
maturidade com um bom, digamos assim, um coração cheio de tesouros e uma mente cheia de bons
conhecimentos, bons exemplos, boas experiências, vivências alegres e felizes de quando ele
era criança, de quando ele era jovem, de quando ele era adulto, sem medo do envelhecimento,
porque vai entendendo que o envelhecimento é a oportunidade também de compartilhar
com os mais jovens e uma preparação para um outro plano de existência.
Então é interessante que Platão vai desenvolvendo nessa obra que o ser humano, quando ele vive
num meio ambiente construído por ele mesmo, com o seu próprio esforço, um pouco pensando
nas futuras gerações, nas novas gerações, nas gerações futuras, ele vai contribuindo
para o desenvolvimento da sociedade.
Ele vai tendo uma espécie de ideal, ele vai tendo uma espécie de planejamento para o
vai usando aquilo que nós falamos no começo da nossa conversa, ele vai utilizando a sua
razão para ir juntando para si mesmo argumentos que cada vez mais lhe possibilitem ser cada
vez mais idealista, cada vez mais assertivo, cada vez mais humano, cada vez menos competitivo.
E é interessante, Danilo, que essa mentalidade trabalha tanto o nosso medo como também a
nossa coragem.
Ela trabalha tanto as nossas debilidades, os nossos vícios, os nossos defeitos, como
também as nossas qualidades, como também as nossas virtudes e os nossos valores.
De que maneira?
Porque se nós ficamos parados simplesmente esperando que as coisas aconteçam, que em
algum momento surja um governante mágico ou surja algum milagre de alguma outra dimensão
ou de algum outro planeta, o indivíduo não só perde a sua vida, ele não só perde o
seu tempo de vida preocupado com coisas muito rasteiras, como pouco a pouco seus ideais
e seus sonhos vão enferrujando e vai acontecendo o mesmo, que com as águas paradas vão apodrecendo
e sendo incapazes de manter a vida, qualquer coisa viva.
E isso é um espetáculo muito horrível de se ver, Danilo, porque da mesma maneira que
num lago, quando esse lago morre, morrem os peixes, morre a sua vegetação natural, morre
o espaço que depende daquelas águas ao redor, da mesma maneira quando um ser humano morre
por dentro, ele não tem esse crescimento interior, ele acaba também contribuindo de
certa maneira para que o seu ao redor seja poluído pelos seus maus pensamentos, pelas
suas más palavras e pelas suas más ações.
Ele vai cada vez mais se sentindo mais medo, ele cada vez mais sendo dominado pela covardia,
cada vez mais sendo dominado pela sua desesperança e de certa maneira também contribuindo para
que isso se torne algo social.
Consequentemente vai ser aquele indivíduo bastante competitivo, porque ele vai ter sempre
que precisar se afirmar que não, que ele é o corajoso, que ele é o vencedor, vai
espalhar isso, vai transformar isso numa antifilosofia de vida, ao qual vai transferir isso para
seus filhos, os jovens para com quem ele tenha contato, os amigos, as pessoas com quem ele
trabalha, seja ele alguém responsável por essas pessoas ou simplesmente uma pessoa que
faz questão de destilar o seu veneno para todos aqueles que a cercam.
Então ele vai contribuindo realmente socialmente, mas vai contribuindo de uma maneira bastante
destrutiva, ele não vai permitir que as pessoas se conectem umas com as outras.
Segundo Platão, aliás baseado em Platão e naquilo que ele desenvolve na República,
ele e muitos outros filósofos gregos, romanos, tibetanos, quando o ser humano usa a sua razão
para se conectar com conhecimentos que cada vez aumentem a sua cultura, lhe permitam refletir
sobre a importância e o valor de estar vivo nesse momento, no contato com essas pessoas
ou com esse meio ambiente que está ao nosso redor, ele começa a atuar de uma maneira
bastante responsável, não porque ele queira fazer alguma boa figura social, mas justamente
porque ele quer ver crescer os seus valores interiores, ver crescer a sua coragem.
E perseverando nisso durante a sua juventude, durante a sua maturidade ou durante a sua
entrada no tempo de ancianidade, ele também vai contribuindo com o meio ambiente onde
ele participa, mas vai contribuindo de uma maneira construtiva e de uma maneira positiva.
Não é uma mudança mágica simplesmente porque as pessoas veem um bom exemplo, elas também
se tornam boas, mas as pessoas começam a ter uma inspiração, algumas pessoas pelo
menos, mais idealistas, elas começam a ter uma boa inspiração do que podem fazer também
se lhes desagrada o curso em que está a sua vida, se lhes desagrada o curso em que está
indo a sociedade em que elas próprias vivem, elas começam a perceber um curso, elas começam
a ter uma chama de esperança do que elas mesmas podem fazer para também participar
de uma maneira positiva, percebe?
E é interessante, Danilo, que sim, haverão aquelas pessoas que vão fazer isso de uma
maneira bastante pontual, vão ajudar o seu vizinho quando percebem que o seu vizinho
está em apurso, o que é muito bom com certeza, quando vem uma pessoa com alguma debilidade
física, uma senhora ou uma pessoa adoecida carregando um peso na rua, vão se prontificar
a ajudar essa pessoa, o que também é muito bom, não vai mudar a sociedade, não vai
mudar o mundo, mas é uma ação fruto de uma inspiração.
Assim como nós sabemos, Danilo, como escola de filosofia, que existem aquelas pessoas
que não querem fazer isso uma vez ou pontualmente, querem fazer isso com ritmo, querem ser uma
espécie de energia viva, de força viva para com a natureza, querem ser de certa maneira,
dentro da nossa dimensão humana, como o sol, que todo dia está presente compartilhando
luz e compartilhando calor.
E isso é muito bom, Danilo, porque é de certa maneira nós dignificarmos a vida humana,
fazendo com que todos os dias sempre nos lembremos de que o ser humano pode ser um sol, de que
o ser humano tem uma energia, ele tem uma força, ele tem uma força bastante interior,
ele tem uma força viva, que pode se tornar em coragem, que pode se tornar em esperança,
que pode se tornar em bons exemplos, pelo menos para aquelas pessoas que ou estão dispostos
a ter uma motivação a mais para ajudar aquela senhora que tem uma certa dificuldade em fazer
algumas coisas ou outros tipos de questões, ou aquelas pessoas que querem fazer isso num
ritmo mais humano mesmo, de imitação do sol ou de imitação do coração, ou de imitação
da própria vida, que nos dá o belíssimo espetáculo de que todo ano se repete a primavera,
mas são sempre primaveras muito diferentes.
E todos esses problemas, não é, José Roberto?
Eles têm uma razão de ser, eles têm uma raiz, eles não nascem também de maneira
casual.
Eu gostaria que você falasse sobre esse processo para que a gente reflita e, claro, evite que
esses problemas nasçam, ou seja, dentro do nosso coração.
Isso é uma questão muito importante, por isso eu gostaria que você falasse um pouco
mais sobre essas ideias para que a gente aplicasse e vivesse o oposto.
Assim, né, Danilo?
É uma questão bastante aristotélica.
A gente pode usar Aristóteles para nos dar um bom exemplo disso, porque nós percebemos
que o nosso gato, o nosso cachorro, eles nascem com uma determinada identidade e, por mais
que nós os treinemos, os adestremos, eles vão dar um ou dois passinhos, mas nunca vão
deixar o essencial da sua identidade de lado, porque esse é o curso que a natureza deu
para o desenvolvimento de uma planta, quem entende de rosas sabe desde muito novinha
que aquela é uma semente de rosa ou que aquele pequeno broto é uma rosa.
Não existe nada que vá acontecer socialmente falando ou individualmente falando que vá
mudar a natureza essencial de uma rosa ou de um cavalo ou de um cão ou de um gato ou
de uma pedra.
Já o ser humano, não, o ser humano é aquilo que ele constantemente exercita dentro das
considerações de Aristóteles.
Então o ser humano tem um potencial para medo, ele tem um potencial para vícios e
defeitos, mas ele também tem um potencial para virtudes e valores.
E também as escolas renascentistas, elas também colocavam muito isso, elas apostavam,
elas colocavam que o ser humano, como você colocou em algum momento, com consciência
ele vai se aproximando dos conhecimentos fundamentais, principalmente os conhecimentos das grandes
personalidades históricas, principalmente esses grandes filósofos, esses grandes sábios
da humanidade que não só ensinaram sobre o caminho que é o mais apropriado ao despertar
da condição humana, mas que eles principalmente deram os primeiros exemplos.
Jesus não simplesmente ensinou ama ao teu próximo como a ti mesmo, ele foi muito exemplo
disso.
Confúcio também não só falava da ordem, mas Confúcio tinha ritos e rituais que ele,
com muita ordem, os executava todos os dias com relação ao seu acordar, com relação
às aulas que ele desenvolvia com seus discípulos, com relação às reverências que ele tinha
para com o príncipe do estado em que ele nasceu, com relação a cumprir bem as suas
funções enquanto ministro da justiça.
Então Confúcio também não foi só alguém que ensinou sobre a ordem, a disciplina e
os valores, ele deu muitos bons exemplos com relação a isso.
Sócrates foi outro grande exemplo daquilo que ele ensinava.
E de certa maneira, o que esses filósofos, esses grandes filósofos demonstram é que
é tudo uma questão de treinamento.
E nós, através do conhecimento da obra, da vida, dos principais conceitos filosóficos
e humanísticos desses grandes filósofos, nós podemos nos motivar, nós podemos também
nos inspirar a viver, não de uma maneira aleatória, porque viver de uma maneira aleatória,
deixa a vida me levar, a vida leva eu, vamos ver o que acontece no dia de amanhã.
Já dizia Sêneca que tudo o que nós estamos fazendo é alimentar o que há de mais sombrio
dentro de nós, o lado negro da nossa própria força interior.
Não, não, não, quando nós seguimos a orientação, entendemos a orientação desses grandes filósofos,
nós buscamos também viver num ritmo para desenvolver as nossas próprias virtudes e
os nossos próprios valores.
Então Danilo, voltando a Aristóteles, é uma questão de treinamento, conhecimento
e vivência desse conhecimento.
Nos aproximarmos do conhecimento e dos exemplos dos grandes filósofos, das grandes personalidades
que em qualquer área desenvolveram valores e virtudes de trabalho, de vida, de relações
humanas, de certa maneira colocarmos pelo menos a essência desses conhecimentos na
nossa própria prática de vida, fazendo disso um hábito, fazendo disso um exercício.
Com isso Danilo, nós combatemos a nossa timidez, com isso nós combatemos a nossa pequenez,
com isso vamos combatendo os nossos medos, os nossos egoísmos, as nossas manias com
relação a cuidarmos demasiadamente de nós mesmos e começamos a perceber que nós somos
parte de uma natureza social e parte também de uma natureza viva, zelando para que com
o desenvolvimento dos nossos valores nós também possamos exercer isso na sociedade
para também darmos bons exemplos aos jovens, para também darmos bons exemplos a jovens,
aos homens, às mulheres, aos idealistas, de que sim, o ser humano é alguém que pode
crescer por dentro como ser humano.
E é natural, não é José Roberto, que para encerrar você fale um pouco mais sobre a
filosofia nesse processo de crescimento interior.
Você apontou várias questões e é natural que a filosofia nos traz respostas e soluções
também muito práticas, muito efetivas.
Então para encerrar o nosso podcast eu gostaria que você falasse sobre essas ideias.
Principalmente, realmente Danilo, nessa questão do crescimento interior.
E é muito interessante que eu estava conversando com um amigo da escola após uma de nossas
aulas e ele nos colocou que não é para sermos independentes, nós não estamos numa época
de independência.
Não, sim, com certeza.
É interessante que o fato de nós nos relacionarmos com o conhecimento desses grandes mestres
da história não nos faz dependentes deles.
Mas é nós irmos enriquecendo cada vez mais o nosso próprio critério para que nós possamos
fazer de cada escolha que nós façamos na nossa vida algo que nós saibamos de onde
vem essas escolhas.
Qual a sua fundamentação racional, qual o seu benefício para com o nosso próprio
crescimento como seres humanos, com o que de melhor nós temos para desenvolver o que
nós temos para poder aportar de uma maneira benéfica a nossa sociedade.
Por isso que nós não estamos falando de buscar qualquer coisa em qualquer lugar, mas
principalmente atuar com um critério filosófico mesmo, que é selecionar os melhores modelos
históricos, os melhores modelos humanos, se é isso que nós queremos ser melhores
como seres humanos.
E esses grandes mestres, voltamos a repetir, e a história está aí como a nossa grande
testemunha de que esses grandes mestres foram grandes.
E se nós tivermos dúvidas sobre esse ou aquele, podemos nos enriquecer cada vez mais
com o estudo de muitos, para perceber que em diferentes épocas, em diferentes momentos
históricos, sobre diferentes circunstâncias e dificuldades sociais, muitos deles souberam
ser sempre fiéis àquilo que eles concebiam como a alma mater do ser humano, a alma interior
do ser humano.
Não só cresceram como seres humanos, como ainda deixaram estradas bastante bem sinalizadas
de como nós podemos fazer na nossa própria dimensão para também conquistarmos esse
maravilhoso desafio, esse maravilhoso desafio de ver crescer a semente do que é humano
dentro de nós e assim sentirmos que realizamos o nosso destino.
Da mesma maneira que a semente da rosa quando cresce vai ser rosa, o gatinho, o filhote
quando crescer vai ser um gatão ou uma gatona, o tigre também e a pedra também, digamos
assim, vai seguir o que é próprio da sua natureza.
Nós como seres humanos, segundo esses mesmos grandes filósofos, nós temos também uma
natureza essencial que quando ela é treinada, ela é exercitada, ela também aflora e nos
faz ser o que nós somos verdadeiramente livres e verdadeiramente capazes de compreender
e seguir a natureza com liberdade, mas também com inteligência e com consciência.
Dessa maneira encerramos então o nosso podcast agradecendo a presença do professor José
Roberto e claro desejando que seja sempre muito bem-vindo.
Obrigado Danilo, é um grande prazer estar aqui para compartilhar algumas pequenas experiências
e algumas pequenas reflexões filosóficas com as pessoas que carinhosamente, generosamente
e há um bom tempo nos acompanham.
E para aqueles que queiram nos contatar podem fazê-lo através do nosso site nova-acrópole.org.br
barra podcast.
Para quem quiser saber mais sobre o curso de filosofia para viver pode fazê-lo também
através do nosso site nova-acrópole.org.br.
Até a próxima.
A trilha deste podcast é de autoria de Johannes Brahms e chama-se Wie Lieblich Sein Deinen
Wohangan.