Tabela ajuda a avaliar risco de covid-19 em eventos sociais
Você é daqueles que já estão pensando em um jeito de reunir a família – ou pelo
menos uma parte dela – nas festas de fim de ano? Foi chamado para um karaokê e não sabe se vai?
Está em dúvida sobre se compra algo na feira ou no supermercado?
Os números indicam estabilização de casos e mortes por covid-19 no Brasil.
Mas uma estabilização em patamares altos. O Brasil acaba
de superar a trágica marca de 150 mil mortos.
No mundo, o contágio é considerado
acelerado pela Organização Mundial da Saúde. Mas a própria OMS fala que a população parece
estar sofrendo do que chama de “fadiga pandêmica”. Um cansaço das restrições, que faz com que as
pessoas fiquem mais resistentes às regras de isolamento social.
E aí fica a pergunta. Como avaliar se é seguro participar de um evento ou reunir
pessoas em meio à pandemia de covid-19? Eu sou Camilla Costa, da BBC News Brasil em
Londres, e vou falar nesse vídeo sobre um método desenvolvido por pesquisadores da Universidade
de Oxford, no Reino Unido, e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT nos
Estados Unidos, para ajudar nessa tarefa. É essa tabela aqui, que considera fatores
como o uso de máscaras, o tempo de contato com outras pessoas, a ventilação do local,
a quantidade de pessoas e até o que elas estão fazendo — falando, cantando,
gritando ou em silêncio, para avaliar o risco relativo de se reunir com outras pessoas.
Mas por que relativo? Eu conversei com a pesquisadora Lydia Borouiba,
do MIT, uma das autoras do estudo, e ela me disse que ainda não há nenhuma pesquisa que possa dizer,
com total certeza, qual é o risco absoluto de uma atividade qualquer, e atribuir, por exemplo,
um número ou classificação para ela. Por isso, qualquer avaliação de risco é
resultado de uma combinação de fatores. Estes que eu mencionei e até outros.
Por exemplo, seu grau de vulnerabilidade a infecções.
Você já pode ter visto esse gráfico que a gente na BBC News Brasil publicou feito por médicos do
Texas, classificando algumas atividades segundo um possível risco de contágio por covid-19.
Mas é importante lembrar que ele foi feito para a realidade daquele Estado americano
no momento em que eles decidiram reabrir as atividades econômicas.
Eu entrevistei um dos médicos responsáveis e ele me disse que as informações ali
eram avaliações subjetivas dos médicos. Elas podem ajudar você a tomar a sua decisão,
mas é importante que você considere sempre a sua situação, porque só você
sabe todas as condições em que estará. Só você sabe, por exemplo, se o salão de
beleza em que pretende ir cortar o cabelo é um lugar onde só você será atendida, por alguém
que estará tomando cuidados, ou se é um local que estará cheio de gente, e apresenta riscos maiores.
Vamos lembrar por exemplo que assim que a Alemanha começou a reabrir a economia uma
das regras que chamaram atenção foi a de que não poderia haver conversa nos salões de beleza.
Porque a fala constante aumenta o risco de exposição ao vírus. Mas voltemos à nossa tabela.
Ela foi feita justamente para que cada pessoa saiba avaliar o risco relativo de uma situação e
saber que perguntas fazer antes de tomar decisões. Por exemplo:
Quantas pessoas vão estar neste evento? Quanto tempo ele vai durar? Quanto
tempo eu devo permanecer nele? É um local aberto ou fechado?
É bem ventilado? Vai ter música alta? As pessoas vão
ter que gritar umas com as outras pra conversar? Digamos que você foi chamada para um karaokê,
em uma sala fechada onde as pessoas estarão gritando e cantando.
Segundo a tabela, essa pode ser uma situação de risco moderado se você
estiver usando máscara – que é sempre o ideal – mas de alto risco caso você tire a proteção.
Talvez valha a pena sugerir uma reunião com os mesmos amigos em um local aberto, onde
seja possível manter uma distância maior e sem música alta — para que não seja necessário gritar.
Tudo isso porque, segundo as ultimas conclusões de estudos, o vírus Sars-Cov-2
é transmitido principalmente por gotículas que emitimos para o ar quando exalamos.
A maioria dos governos hoje orienta que as pessoas tentem manter uma distância de até dois
metros umas das outras para prevenir o contágio. Mas esses pesquisadores argumentam que muitas
vezes isso não é suficiente, justamente porque tantos fatores influenciam na maneira como essas
gotículas podem se propagar pelo ar. Se alguém está cantando ou gritando,
tossindo ou espirrando, elas podem viajar a uma distância muito maior.
A ventilação também tem um papel importante: em alguns casos de estudo que ficaram famosos,
o ar-condicionado foi considerado um dos principais responsáveis por levar o vírus
de uma pessoa infectada a diversas outras que estavam num restaurante, sentadas na
direção daquela corrente de ar por bastante tempo. É por isso que é importante pensar em quanto tempo
você vai ficar em um evento e onde ele ocorre. Infelizmente, segundo a pesquisadora que eu entrevistei,
ainda não dá pra cravar um número específico de minutos que pode ser considerado “muito”
ou “pouco tempo” de contato com alguém. Ela me disse que alguns órgãos de saúde
têm considerado que de 10 a 15 minutos seria um período curto e, acima disso, um período longo.
Mas ainda não há embasamento científico para esses dados.
A ciência ainda está evoluindo com relação ao Sars-Cov-2. Por isso,
nem todas as respostas estão disponíveis. Do mesmo jeito, quando pensamos se um local
tem alta ocupação ou baixa, é preciso considerar o tamanho dele, se as pessoas
ali têm ar fresco suficiente pra respirar e se não estão muito próximas umas das outras.
Na hora de pensar na ventilação, o importante é observar se há circulação de ar limpo e fresco,
de preferência que venha de fora. Segundo os pesquisadores, não é
suficiente apenas que o ar esteja se movendo, como um ventilador ou um ar-condicionado
fazem. Atenção para isso no verão brasileiro. É preciso trocar o ar, para que as partículas
que todas as pessoas estiveram exalando sejam diluídas no ar novo.
É claro que nós não estamos querendo dizer aqui que todo mundo deve sair por aí.
A orientação principal das autoridades de saúde continua sendo a de evitar
aglomerações desnecessárias sempre que possível. E em todas essas situações, os pesquisadores de
Oxford e do MIT alertam que alguns cuidados básicos sempre devem ser observados:
Mesmo que, olhando na tabela, você avalie que o seu caso é de risco baixo,
tente manter ao menos dois metros de distância de outras pessoas e usar máscara.
A pesquisadora Lydia Borouiba resumiu bem: "Não é porque você está a dois metros que
pode tirar a máscara e não é porque está de máscara que pode chegar mais perto.
Mas, se tiver que se aproximar rapidamente de alguém, não precisa entrar em pânico,
não é o fim do mundo”, ela me disse. Se o risco for moderado, seja mais
rígido com a regra dos dois metros de distância, ou seja, faça um esforço
maior para não se aproximar mais do que isso. E, dependendo dos outros fatores da situação,
tente ficar um pouco mais distante. Se o risco for alto, o ideal é ficar mais afastado
do que dois metros, nunca menos do que isso. E a sua máscara deve ser de qualidade, para
adicionar uma camada mais eficiente de proteção. É um cálculo complexo mesmo, mas não há respostas
prontas. O que os pesquisadores queriam era que todos pudessem ter uma ferramenta para poderem
fazer suas escolhas com segurança. Eu vou deixar aqui, na descrição do vídeo, o link para minha
reportagem em texto que tem os gráficos.
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