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Buenas Ideias, TIA CIATA E A PRAÇA ONZE: COMO SURGIRAM AS ESCOLAS DE SAMBA - EDUARDO BUENO

TIA CIATA E A PRAÇA ONZE: COMO SURGIRAM AS ESCOLAS DE SAMBA - EDUARDO BUENO

Vou beijar-te agora. Não me leve a mal. Hoje é Carnaval.

Dez! Dez! A tia Ciata é dez! E a praça é onze!

Que dia é hoje? Que dia é hoje? Na Internet, todo dia é dia de hoje, cara, mas é que se você não

estiver vendo esse episódio hoje, 14 de fevereiro de 2018, quarta-feira de cinzas

significa que você não faz parte da seleta comunidade do Canal Buenos Idéias

Então tu vai estar vendo atrasado, cara, mas, mesmo assim, pode ver mesmo que hoje não

seja 14 de fevereiro de 2018. Bom, estamos falando sobre o Carnaval justamente

porque hoje o Carnaval acaba de virar cinzas

e nós vamos soprar as brasas dormidas de uma história maravilhosa: a história da

Tia Ciata.

E da Praça Onze. Você já ouviu falar da Praça Onze aqui mesmo no canal Buenas Ideias,

no Não Vai Cair no Enem. Praça Onze é antiga, bem antiga. Ela surgiu

mais ou menos na chegada de dom joão VI ao Rio de Janeiro, por volta de 1808.

Um pouco depois 1810 ele já se mudou lá pra Quinta da Boa Vista e acabou

surgindo ali um reduto chamado rocio pequeno. Todas as cidades portuguesas

tinham rocio, né? O rocio era um terreno roçado grande que acabava virando, muitas

vezes, a praça central das cidades portuguesas.

O rocio pequeno era um roçado menor que ficava na Cidade Nova.

Bom, aí o rocio pequeno mudou de nome e passou a se chamar Praça Onze. Praça Onze

por que, mané? Porque no dia 11 de junho de 1865, o Brasil ganhou a batalha

do Riachuelo, no Riachuelo lá, afluente do rio Paraná na Guerra do Paraguai.

Mas a história da Praça Onze ia mudar mesmo com a chegada de uma mulher

maravilhosa, a Tia Ciata.

Tia Ciata era baiana, nasceu em Santo Amaro da Purificação, mesma cidade do

Caetano Veloso.

Subaé, o rio que passa lá perto de Santo Amaro da Purificação, onde a

Hilária Batista de Almeida nasceu, era assim que se chamava Tia Ciata. Ela

nasceu em 1854 e se mudou para o Rio de Janeiro 22 anos depois. 1854 mais 22 dá

1876. Ela chegou em 1876 no Rio de Janeiro, mas não se instalou direto na

Praça Onze. Se instalou na rua General Câmara, que era conhecida então como Rua

do Sabão. Cai, cai balão. Cai, cai balão na Rua do Sabão porque tinha uma fábrica de

sabão ali. Tinha também uma fábrica de óleo de peixe que, na verdade era o óleo de

baleia que iluminava o Rio de Janeiro. Essa rua seria destruída com a abertura

da Avenida Presidente Vargas.

Porém, por volta de 1890, a Tia Ciata se mudou para a Praça Onze.

A Praça Onze já era então um grande reduto negro, tanto é que era chamada de

Pequena África, né? Muitos escravos libertos, escravos de

ganho, que era o nome do escravo que os donos deixavam trabalhar e com

a abolição escravos que era de fato libertos se instalaram em várias casas,

que muitas delas viraram cortiços na Praça Onze. Porém, não a casa de Tia

Ciata porque a Tia Ciata era uma baiana, a primeira autêntica baiana

carioca. Ela tinha um tabuleiro o tabuleiro da baiana, onde ela fazia

quitutes inacreditáveis, eram comidas santificadas, eram comidas sacralizadas

porque ela era Ialorixá. Ela era filha de santo. Ela tinha a

cabeça feita e os seus quitutes eram todos quitutes dedicados aos orixás e

ela os vendia num grande tabuleiro que era o melhor,

os melhores doces feitos no Rio de Janeiro por baiana eram feitos por ela e

ela os vendia no Largo da Carioca, que também passou a ser chamado de Tabuleiro da

Baiana. Alguns dizem inclusive que em homenagem a ela própria.

Bom, o fato é que ela casou com um negro bem sucedido, coisa rara nessa época na

sociedade brasileira.Um cara bem de vida, que era funcionário público e aí fizeram

uma casa, que virou a casa que foi um dos locais onde o samba nasceu no Brasil.

O samba tem uma origem controversa, polifórmica, que surgiu em vários lugares,

mas um dos lugares onde certamente o samba floresceu foi na casa de Tia Ciata,

que era frequentada pelo Dunga, pelo João da Baiana, pelo Sinhô, foi ali que foi

composto aquele que é considerado o primeiro samba, que fez 100 anos no ano

passado e está fazendo 101 anos agora, portanto, que é Pelo Telefone do Sinhô.

O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar. E ali os

grandes sambistas se reuniam com a comida sempre generosa e farta da Tia Ciata com

o samba dos grandes mestres, do Partido Alto, da Batucada e eram festas que

varavam a madrugada e tal. E Por que tinham permissão para continuar varando

a madrugada? Porque a Tia Ciata tinha sido responsável pela cura de uma ferida

que não fechava nunca na perna do Presidente Venceslau Braz. É isso

aí! O Venceslau Braz tinha uma

ferida, quase no pé, na canela e não

fechava nunca e a Tia Ciata. Souberam, né? Que o Presidente tava com isso e

consultaram a Tia Ciata e ela deu uma receita de ervas lá. Um unguento de ervas, que

curou o presidente e a Tia Ciata passou a se dar bem na parada, né?

Bom, se deu bem na parada só que não para sempre, né? Ela morreu em 1926 e o legado

dela acabou sendo varrido do mapa no sentido geográfico da palavra, quando a

Praça Onze acabou sendo virtualmente arrasada com a abertura da Avenida

Presidente Vargas. Antes disso porém entre 1925 e 1935 ,15

mil judeus chegaram ao Rio de Janeiro vindo basicamente da Europa Oriental e

se instalaram na Praça Onze, depois, mais ou menos na mesma época, uma série de de

imigrantes espanhóis e italianos, muitos deles de formação anarquista também se

instalaram na Praça Onze que era, portanto, então um reduto bastante cosmopolita com

o italiano, com o espanhol, com o judeu, né? Gente cosmopolita por natureza e com um

monte de negão, um monte de sambista e um monte de baianas cariocas, todas frutos

dessa árvore frondosa que era a Tia Ciata. Pois bem, em 1940, o Getúlio Vargas,

no auge do Estado Novo resolve abrir uma avenida que coincidente levou seu nome,

você já viu isso aqui no Não Vai Cair No Enem.

E essa avenida simplesmente passou por cima

da Praça Onze e foi óbvio porque o traçado original era um pouco mais à

direita e ele o moveu para a esquerda e VUP. E, hoje, a Praça Onze não passa de um

canteiro, em um canteiro. Um dos locais mais inacreditáveis da cultura carioca,

da cultura brasileira, desse mix entre Rio de Janeiro e Bahia porque a menina

baiana, é, cara. Além de tudo, né? Alguns dizem inclusive que ela deu origem a ala

das baianas das escolas de samba. As escolas de samba surgiram ali na Praça

Onze, em 1933. O Pedro Ernesto, que era prefeito do Rio de Janeiro criou as

primeiras escolas de samba justamente ali. Então, hoje, nessa quarta-feira de

cinzas, nós estamos recordando essa história que está um pouco recoberta por

cinzas, porém basta soprar nas brasas dormidas dessa cultura para que ela

renasça com todo o seu fulgor incendiário.

Então, está encerrado o episódio de quarta-feira de cinzas do Não Vai Cair No

Enem. Até logo.

O que você acaba de ver está

repleto de generalizações e simplificações, mas o quadro geral era

esse aí mesmo. Agora se você quiser saber como as coisas de fato foram, então

você vai ter que ler.


TIA CIATA E A PRAÇA ONZE: COMO SURGIRAM AS ESCOLAS DE SAMBA - EDUARDO BUENO

Vou beijar-te agora. Não me leve a mal. Hoje é Carnaval.

Dez! Dez! A tia Ciata é dez! E a praça é onze!

Que dia é hoje? Que dia é hoje? Na Internet, todo dia é dia de hoje, cara, mas é que se você não

estiver vendo esse episódio hoje, 14 de fevereiro de 2018, quarta-feira de cinzas

significa que você não faz parte da seleta comunidade do Canal Buenos Idéias

Então tu vai estar vendo atrasado, cara, mas, mesmo assim, pode ver mesmo que hoje não

seja 14 de fevereiro de 2018. Bom, estamos falando sobre o Carnaval justamente

porque hoje o Carnaval acaba de virar cinzas

e nós vamos soprar as brasas dormidas de uma história maravilhosa: a história da

Tia Ciata.

E da Praça Onze. Você já ouviu falar da Praça Onze aqui mesmo no canal Buenas Ideias,

no Não Vai Cair no Enem. Praça Onze é antiga, bem antiga. Ela surgiu

mais ou menos na chegada de dom joão VI ao Rio de Janeiro, por volta de 1808.

Um pouco depois 1810 ele já se mudou lá pra Quinta da Boa Vista e acabou

surgindo ali um reduto chamado rocio pequeno. Todas as cidades portuguesas

tinham rocio, né? O rocio era um terreno roçado grande que acabava virando, muitas

vezes, a praça central das cidades portuguesas.

O rocio pequeno era um roçado menor que ficava na Cidade Nova.

Bom, aí o rocio pequeno mudou de nome e passou a se chamar Praça Onze. Praça Onze

por que, mané? Porque no dia 11 de junho de 1865, o Brasil ganhou a batalha

do Riachuelo, no Riachuelo lá, afluente do rio Paraná na Guerra do Paraguai.

Mas a história da Praça Onze ia mudar mesmo com a chegada de uma mulher

maravilhosa, a Tia Ciata.

Tia Ciata era baiana, nasceu em Santo Amaro da Purificação, mesma cidade do

Caetano Veloso.

Subaé, o rio que passa lá perto de Santo Amaro da Purificação, onde a

Hilária Batista de Almeida nasceu, era assim que se chamava Tia Ciata. Ela

nasceu em 1854 e se mudou para o Rio de Janeiro 22 anos depois. 1854 mais 22 dá

1876\. Ela chegou em 1876 no Rio de Janeiro, mas não se instalou direto na

Praça Onze. Se instalou na rua General Câmara, que era conhecida então como Rua

do Sabão. Cai, cai balão. Cai, cai balão na Rua do Sabão porque tinha uma fábrica de

sabão ali. Tinha também uma fábrica de óleo de peixe que, na verdade era o óleo de

baleia que iluminava o Rio de Janeiro. Essa rua seria destruída com a abertura

da Avenida Presidente Vargas.

Porém, por volta de 1890, a Tia Ciata se mudou para a Praça Onze.

A Praça Onze já era então um grande reduto negro, tanto é que era chamada de

Pequena África, né? Muitos escravos libertos, escravos de

ganho, que era o nome do escravo que os donos deixavam trabalhar e com

a abolição escravos que era de fato libertos se instalaram em várias casas,

que muitas delas viraram cortiços na Praça Onze. Porém, não a casa de Tia

Ciata porque a Tia Ciata era uma baiana, a primeira autêntica baiana

carioca. Ela tinha um tabuleiro o tabuleiro da baiana, onde ela fazia

quitutes inacreditáveis, eram comidas santificadas, eram comidas sacralizadas

porque ela era Ialorixá. Ela era filha de santo. Ela tinha a

cabeça feita e os seus quitutes eram todos quitutes dedicados aos orixás e

ela os vendia num grande tabuleiro que era o melhor,

os melhores doces feitos no Rio de Janeiro por baiana eram feitos por ela e

ela os vendia no Largo da Carioca, que também passou a ser chamado de Tabuleiro da

Baiana. Alguns dizem inclusive que em homenagem a ela própria.

Bom, o fato é que ela casou com um negro bem sucedido, coisa rara nessa época na

sociedade brasileira.Um cara bem de vida, que era funcionário público e aí fizeram

uma casa, que virou a casa que foi um dos locais onde o samba nasceu no Brasil.

O samba tem uma origem controversa, polifórmica, que surgiu em vários lugares,

mas um dos lugares onde certamente o samba floresceu foi na casa de Tia Ciata,

que era frequentada pelo Dunga, pelo João da Baiana, pelo Sinhô, foi ali que foi

composto aquele que é considerado o primeiro samba, que fez 100 anos no ano

passado e está fazendo 101 anos agora, portanto, que é Pelo Telefone do Sinhô.

O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar. E ali os

grandes sambistas se reuniam com a comida sempre generosa e farta da Tia Ciata com

o samba dos grandes mestres, do Partido Alto, da Batucada e eram festas que

varavam a madrugada e tal. E Por que tinham permissão para continuar varando

a madrugada? Porque a Tia Ciata tinha sido responsável pela cura de uma ferida

que não fechava nunca na perna do Presidente Venceslau Braz. É isso

aí! O Venceslau Braz tinha uma

ferida, quase no pé, na canela e não

fechava nunca e a Tia Ciata. Souberam, né? Que o Presidente tava com isso e

consultaram a Tia Ciata e ela deu uma receita de ervas lá. Um unguento de ervas, que

curou o presidente e a Tia Ciata passou a se dar bem na parada, né?

Bom, se deu bem na parada só que não para sempre, né? Ela morreu em 1926 e o legado

dela acabou sendo varrido do mapa no sentido geográfico da palavra, quando a

Praça Onze acabou sendo virtualmente arrasada com a abertura da Avenida

Presidente Vargas. Antes disso porém entre 1925 e 1935 ,15

mil judeus chegaram ao Rio de Janeiro vindo basicamente da Europa Oriental e

se instalaram na Praça Onze, depois, mais ou menos na mesma época, uma série de de

imigrantes espanhóis e italianos, muitos deles de formação anarquista também se

instalaram na Praça Onze que era, portanto, então um reduto bastante cosmopolita com

o italiano, com o espanhol, com o judeu, né? Gente cosmopolita por natureza e com um

monte de negão, um monte de sambista e um monte de baianas cariocas, todas frutos

dessa árvore frondosa que era a Tia Ciata. Pois bem, em 1940, o Getúlio Vargas,

no auge do Estado Novo resolve abrir uma avenida que coincidente levou seu nome,

você já viu isso aqui no Não Vai Cair No Enem.

E essa avenida simplesmente passou por cima

da Praça Onze e foi óbvio porque o traçado original era um pouco mais à

direita e ele o moveu para a esquerda e VUP. E, hoje, a Praça Onze não passa de um

canteiro, em um canteiro. Um dos locais mais inacreditáveis da cultura carioca,

da cultura brasileira, desse mix entre Rio de Janeiro e Bahia porque a menina

baiana, é, cara. Além de tudo, né? Alguns dizem inclusive que ela deu origem a ala

das baianas das escolas de samba. As escolas de samba surgiram ali na Praça

Onze, em 1933. O Pedro Ernesto, que era prefeito do Rio de Janeiro criou as

primeiras escolas de samba justamente ali. Então, hoje, nessa quarta-feira de

cinzas, nós estamos recordando essa história que está um pouco recoberta por

cinzas, porém basta soprar nas brasas dormidas dessa cultura para que ela

renasça com todo o seu fulgor incendiário.

Então, está encerrado o episódio de quarta-feira de cinzas do Não Vai Cair No

Enem. Até logo.

O que você acaba de ver está

repleto de generalizações e simplificações, mas o quadro geral era

esse aí mesmo. Agora se você quiser saber como as coisas de fato foram, então

você vai ter que ler.