Coronavírus: a curva de contágio que o Brasil precisa evitar
[Mar 16, 2020].
O coronavírus se espalha rapidamente pelo mundo.
O que muitos pais tentam agora é evitar um aumento brusco no número de doentes Essa estratégia de evitar a sobrecarga do sistema e reduzir o número de mortes é conhecida como "achatar a curva".
Eu sou Matheus Magenta, da BBC News Brasil aqui em Londres, e hoje eu vou explicar como isso funciona citando estratégia de diversos países.
Em português claro, achatar a curva é simplesmente ter menos pessoas doentes ao mesmo tempo.
Isso significa desacelerar a disseminação do vírus para que o número de casos não fique tão concentrado em um curto período de tempo.
Dessa forma, ele se espalharia ao longo de meses e não de semanas.
Um estudo da Universidade de Southampton, aqui do Reino Unido, se debruçou sobre o exemplo da China.
Segundo os pesquisadores, se as medidas draconianas de distanciamento social tivessem sido adotadas uma semana antes, o número de pessoas infectadas poderia ter sido até 66% menor.
Existe um outro efeito trágico dessa concentração repentina de casos: mais de 1.700 profissionais de saúde chineses ficaram doentes e muitos deles morreram.
Para ficar mais claro, dá uma olhada nesse gráfico agora com duas curvas e uma linha:
o eixo x é o tempo desde o primeiro caso registrado;
o eixo y é o número total de casos,
A primeira curva é a chamada acentuada: ela mostra o pesadelo do contágio acelerado em que o número de casos dobra a cada 3, 4 dias.
Já essa linha reta é a capacidade do sistema de saúde.
O descompasso fica claro: quanto mais gente doente ao mesmo tempo, menos profissionais saúde e menos leitos hospitalares disponíveis para todos aqueles que precisam.
O cenário extremo disso é a Itália, onde médicos têm enfrentado a escolha de Sofia de decidir quem vai receber o tratamento, com a respiração com ajuda de aparelhos, e quem possivelmente vai morrer.
A segunda curva é achatada: não há necessariamente menos casos no total, mas menos ao mesmo tempo.
Quando a gente compara evolução total de casos em países como o Japão e a Coreia, que são uma curva mais achatada, e a Itália, que é uma curva acentuada, o resultado é bastante impressionante: ao longo de cerca de um mês, o número de novos casos por dia na Itália foi quase 20 vezes maior que o número de casos no Japão.
Dados iniciais têm indicado que oito a cada dez pessoas infectadas com o novo coronavírus não precisam de internação, mas cerca de 20% sim vão parar no hospital.
Esse é um percentual bastante expressivo quando a gente considera a facilidade com que o vírus tem se espalhado e o número de pessoas que podem ser afetadas.
Alguns países têm previsto que cerca de 80% da população pode se infectar com o novo coronavírus.
No caso do Brasil, isso significaria quase 170 milhões de pessoas contraído o vírus.
20% desse total precisaria de internação — ou seja, mais de 33 milhões de pessoas em hospitais.
Se isso de fato acontecer, é fundamental que seja por um período mais longo de tempo.
E tem um outro detalhe importante: a covid-19 tem levado a internações de, em média, quase três semanas, e muitas vezes dessas pessoas ficam em Unidades de Terapia Intensiva — você pode imaginar a sobrecarga de todo o sistema de saúde.
No Brasil, vale lembrar que cerca de 70% da população não tem plano de saúde.
O governo tem investido para aumentar o número de leitos de UTI no SUS.
Hoje, há pouco mais de 40 mil leitos de UTI no Brasil — metade na rede privada e metade na rede pública, mais ou menos.
Eu vou falar agora com mais detalhes sobre o que está sendo feito no mundo que pode servir de base para a estratégia brasileira.
O primeiro exemplo é a China.
O número de casos lá passou de 80 mil infectados e eles precisaram construir um hospital em questão de dias porque o sistema de saúde não dava conta.
Mas, até agora, a situação parece ter se estabilizado depois de todo uma quarentena forçada.
Por ser um país autoritário, com escassas liberdades individuais e de imprensa, os dados que vêm de lá podem despertar certa desconfiança, mas uma comitiva da Organização Mundial de Saúde foi pessoalmente analisar essas medidas, e ele destacaram algumas delas.
Primeira: quarentena forçada de mais de 50 milhões de pessoas, sem transporte público, sem eventos com aglomeração, aulas ou empresas funcionando.
Segundo: busca ativa de pessoas doentes.
Eles realizaram milhares de testes gratuitos e medições de temperatura por todos os cantos das cidades isoladas.
Três: quem estava com sintomas, como febre ou tosse, era isolado compulsoriamente em ginásios.
Isso, segundo a Organização Mundial da Saúde, garantiu o controle da transmissão descontrolada do vírus, principalmente dentro das famílias, onde quase 80% dos casos eram transmitidos naquela época.
Mas uma quarentena forçada é possível em países mais democráticos que a China, ou mesmo necessária?
É preciso obrigar as pessoas a não saírem de casa?
A resposta a princípio é não, segundo os exemplo de alguns outros países asiáticos, como Taiwan e Coreia do Sul, que conseguiram reduzir o contágio com medidas firmes, mas sem autoritarismo.
Eles investiram em algumas frentes.
Primeira: busca ativa de pessoas doentes, com milhares de testes realizados para identificar essas pessoas infectadas ou com suspeita de infecção.
Segundo: o monitoramento e o isolamento de pessoas doentes e de todo mundo que teve contato com elas.
Na Coreia do Sul, por exemplo, um país com 50 milhões de habitantes, a mesma população da Itália, quase 30 mil foram isolados.
Na Itália, foram 50 milhões isolados.
Terceiro: reforço do papel individual e da consciência coletiva.
Para especialistas, cuidados como lavar a mão, se auto-isolar em caso de sintomas ou de ter tido contato com alguém doente e cuidados com o próximo são fundamentais.
Segundo esses pesquisadores, a maneira que indivíduos seguem as orientações públicas de como evitar a transmissão é tão importante quanto as medidas governamentais, ou até mais importante.
E esse é um dos vários problemas identificados na Itália.
O país europeu demorou muito a reagir em todas as frentes.
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Não se sabe como vírus entrou no país e o sistema de saúde levou semanas para perceber que ele estava circulando por ali.
Medidas de distanciamento social começaram a ser adotadas gradualmente, mas muitas pessoas não mudaram suas rotinas por vários dias, até que a gravidade da situação ficasse clara para todos.
Agora, o país inteiro está sob quarentena e uma pessoa doente que não respeite o isolamento pode responder até mesmo por homicídio.
Uma das principais autoridades de saúde da Itália deu sua opinião sobre outros países que não chegaram nesse patamar da doença.
Segundo ele, "esses países deverão se mexer antes.
Muitos ainda não começaram a dar a atenção devida para essa emergência".
Apesar de todos esses exemplos, o Reino Unido decidiu seguir um caminho diferente para achatar a curva essa.
Essa estratégia se chama "imunidade de grupo" , e se baseia na ideia de deixar o vírus circular.
Essa tal imunidade de grupo é normalmente citada por epidemiologistas para falar dos benefícios de vacinas em pessoas que ainda não tomaram essas vacinas.
Isso é porque, uma vez que parte da população é vacinada, ela ganha imunidade e beneficia indiretamente toda uma comunidade.
No caso do coronavírus, estimativas sugerem que essa tal imunidade de grupo só seria alcançada quando aproximadamente 60% da população for infectada pelo vírus.
Mas especialistas e autoridades fizeram críticas duras sobre essa estratégia do Reino Unido.
Para eles, isso pode levar à morte de dezenas de milhares de pessoas.
Por outro lado, o governo britânico alega que não adiantaria frear bruscamente o contágio com o risco de a doença vão tá com força em seguida.
O Ministério da Saúde britânico disse também que deve em breve pediram o autoisolamento de idosos, para que a população mais vulnerável, considerada grupo de risco dessa doença, seja preservada, enquanto o restante da população adquire imunidade.
Mas há aqui uma grande lacuna.
Ainda não se sabe ao certo qual é a resposta imunológica da população ao coronavírus — se de fato não é possíveis se contagiar mais uma vez, por exemplo.
Essa situação não é simples e a gente vai continuar tentando esclarecer pontos importantes (a fazer) e trazer essas diferenças análise do mundo para você.
Espero que tenha gostado do vídeo, obrigado, até a próxima!