Quem são os 30% que ainda apoiam Bolsonaro?
[Jul 11, 2020].
Quando foi eleito, Jair Bolsonaro chegava ao poder acompanhado de uma verdadeira onda que elegeu 52 deputados de seu então partido, o PSL, que formaram a segunda maior bancada da Câmara.
Ele venceu no segundo turno com 55% dos votos válidos - uma base que, de lá para cá, parece estar reduzindo e mudando sua composição.
Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil em São Paulo, e nesse vídeo mostro qual o novo perfil da base de apoio a Bolsonaro, no Congresso e entre o eleitorado.
Bom, a rejeição ao governo vem numa crescente desde o ano passado.
Em junho, segundo a última pesquisa Datafolha, 44% dos brasileiros avaliavam a gestão Bolsonaro como ruim ou péssima, pior desempenho para um presidente em primeiro mandato desde Fernando Collor.
Os números da pesquisa sinalizam que parte desse aumento se deve a uma insatisfação das classes médias com o governo — uma das hipóteses levantadas pelos cientistas políticos é que parte daqueles que haviam aderido ao bolsonarismo por conta do discurso anticorrupção que marcou a campanha agora estaria retirando seu apoio.
Uma parte dessa base “lavajatista” foi abandonando o governo depois de alguns episódios (como) entre eles a saída do ex-ministro Sergio Moro — e a acusação de tentativa de interferência do presidente na Polícia Federal —, as denúncias do inquérito de fake news ou as investigações envolvendo filhos do presidente.
Esse movimento, entretanto, não teve um impacto no número cheio: assim como em meados do ano passado, 30% dos brasileiros dizem avaliar o governo como ótimo e bom.
Isso acontece porque parte do vácuo deixado pelas classes de renda mais alta foi ocupado pelos brasileiros mais pobres.
Em dezembro, 22% dos que tinham renda de até 2 salários mínimos avaliavam o governo como ótimo ou bom, proporção que subiu para 29% em junho.
Com o salto, a participação desse grupo entre aqueles que avaliam o governo como ótimo ou bom hoje é pouco mais de 50%.
Quem pesquisa o tema ainda está tentando entender esse fenômeno.
Existe uma reconfiguração então do chamado bolsonarismo?
O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, ressalta que, dentro daqueles 30%, cerca de um terço não votou em Bolsonaro e, deles, a maioria recebia o auxílio emergencial de R$ 600.
Isso tanto na pesquisa de maio quanto em junho.
O auxílio emergencial então teria algum papel nesse maior apoio de parte das classes populares (vem demonstrando) ao presidente?
Para a cientista política e pesquisadora do Cebrap Camila Rocha, o benefício pode ajudar a explicar, mas é apenas uma hipótese.
Aliás, o próprio Datafolha mostrou que, entre os que recebem o auxílio emergencial, 49% reprovam a atuação do governo na pandemia.
E ela diz que é cedo para afirmar que existe uma reconfiguração do bolsonarismo.
É preciso compreender melhor o fenômeno e ver se essa mudança de composição se mantém por mais tempo.
A cientista política Mariana Borges, pós-doutora na Universidade de Oxford, que há anos pesquisa os eleitores de baixa renda, concorda que ainda não é possível fazer uma avaliação categórica.
Ela ressalta que o comportamento dos eleitores mais pobres é mais complexo do que muita gente pensa e que, no fim do dia, um benefício não vai ser o único fator levado em conta diante da urna.
E dá o exemplo do próprio Bolsa Família, que, segunda ela, era um ponto “residual” na avaliação do PT feita pelos eleitores de baixa renda que avaliavam positivamente a gestão do partido.
Eles levavam em conta uma série de outros fatores que também tinham impacto direto nas suas vidas: acesso a água, eletricidade, consumo, crédito, ensino superior.
Existia uma visão entre eles, segundo a pesquisadora, de que Lula olhava para os mais pobres.
E essa é uma imagem que parece que Bolsonaro vem tentando construir, inclusive com o discurso que tem usado durante a pandemia, quando repete que as medidas de isolamento, das quais discorda, têm penalizado os mais pobres.
A antropóloga Isabela Kalil, que pesquisa a base social do bolsonarismo com uma abordagem etnográfica, com contato direto com grupos de eleitores, acrescenta que, além do auxílio emergencial, as mudanças no Bolsa Família, que foi rebatizado de Renda Brasil, também seriam um aceno a esse público.
Mas dizer que aprova o presidente em uma pesquisa de opinião não significa necessariamente fidelidade a ele ou ao seu projeto político.
Os eleitores mais pobres que agora dizem aprovar a gestão Bolsonaro, segunda ela, fazem parte de um grupo cujo apoio ao presidente é mais volátil.
É diferente dos bolsonaristas fiéis, que, segundo o sociólogo Reginaldo Prandi, representam aí cerca de 15% dos brasileiros adultos.
Ele fez a estimativa com base na última pesquisa Datafolha, isolando o grupo daqueles que votaram no presidente, que dizem acreditar em tudo o que Bolsonaro fala e que avaliam seu governo como ótimo ou bom.
A pesquisa de Isabela também aponta um percentual parecido com esse.
O restante, algo entre 15% e 20%, são esses eleitores que ela chama de mais voláteis, que não necessariamente dariam seu voto a Bolsonaro, apesar de avaliarem bem seu governo no momento.
Se as eleições fossem hoje, entretanto, muitos deles levariam de fato esse apoio às urnas, conforme tem apontado a pesquisa da antropóloga, por não enxergarem outras alternativas na política.
Essa também foi a conclusão de um estudo recente feito pela cientista política Camila Rocha e pela socióloga Esther Solano com brasileiros das classes C e D que haviam votado no presidente.
Mesmo aqueles críticos à administração afirmaram, em sua maioria, que votariam nele por falta de opção se as eleições se dessem neste momento.
A base de apoio do presidente também sofreu uma mudança radical no Congresso.
Ainda em novembro do ano passado, Bolsonaro anunciou sua saída do partido que o elegeu, o PSL, e a fundação de uma nova sigla, o Aliança pelo Brasil.
Nos 28 anos em que foi deputado federal, Bolsonaro passou por 7 partidos diferentes.
A saída do PSL, pra quem não lembra, aconteceu depois de uma série de desavenças entre Bolsonaro e o presidente do partido, Luciano Bivar, envolvendo disputas por controle de cargos e os repasses do fundo eleitoral.
De lá para cá, Bolsonaro perdeu apoio de parlamentares como Alexandre Frota, que foi expulso do PSL, e Joice Hasselmann.
Essa perda de apoio foi gradualmente aparecendo nas votações no Congresso, e acendeu a “luz amarela” para o Palácio do Planalto quando o governo sofreu derrotas por uma ampla margem de votos, como aconteceu com o plano de ajuda aos Estados e municípios, em abril, em que a posição do governo perdeu por 431 votos a 70.
Não por acaso, desde abril Bolsonaro começou se aproximar do centrão, um grupo de partidos que em geral orbita em torno de quem senta na cadeira de presidente, independentemente da ideologia política.
Na tentativa de aumentar sua base de apoio no Congresso e de se blindar de um eventual processo de impeachment, o presidente tem negociado uma série de cargos com esses partidos, como o Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação e o Departamento Nacional de Obras contra a Seca, o Denocs, ambos entregues ao PP.
O presidente falou sobre isso no fim de maio, em uma live, em que defendeu a prática e disse que os parlamentares se sentiam “prestigiados” com as indicações.
“...Nós temos que ter uma agenda positiva para o Brasil.
Então eu conduzi a conversa ao longo dos dois últimos meses.
Conversei com praticamente todos presidentes e líderes de partidos.
Sim, alguns querem cargos, não vou negar.
Alguns, não são todos.
Mas, em nenhum momento, oferecemos ou pediram ministérios, estatais ou bancos oficiais”
O presidente falou, nessa mesma ocasião, que esse movimento também vislumbrava as eleições de 2022, para fortalecer uma eventual candidatura caso ele decida tentar a reeleição.
É isso.
Eu fico por aqui.
Muito obrigada e até a próxima.