MAMADA
Esse é o escopo do trabalho. Alguma questão?
A hora é agora. Não? Nada.
-Então está ótimo. -Então, Laura,
é que esse prazo está, realmente, muito apertado, né?
Sim. Não, eu sei, mas isso foi o que a gente combinou
-lá atrás, a primeira coisa. -É, eu sei. Eu sei,
mas é porque, de lá pra cá, as coisas mudaram,
surgiram outras demandas no meio do caminho.
Você sabe que eu acabei de ficar solteira, né?
Então tem todo um networking que eu preciso fazer,
todo um mercado que eu preciso explorar
e esse fluxo de entrega que você está me propondo foi
pensado pra Manu casada há 10 anos.
Ele não foi pensado pra Manu recém-solteira,
pra Manu piranha, pra Manu com uma sede de piroca
que parece não ter fim, Laura.
Deixa eu ver se eu entendi, Manu.
-O que você está querendo dizer... -Olha pra esse plano e me responde.
Que horas eu vou conseguir mamar uma rola?
-O quê? -Mamar rola, cair de queixo.
-O famoso bola gato, relação. -Eu sei, eu sei o que é.
Eu sei o que é. Só não estou entendendo
o que o cronograma de trabalho tem a ver com isso.
Laura, eu não tenho mais livre demanda de leite.
Quando eu falo da minha necessidade de tocar uma clarineta,
eu já estou incluindo o tempo, a energia,
o investimento que eu preciso pra bater essa meta, entendeu?
E é uma negociação complicada. Eu sou uma mulher heterossexual.
O meu público-alvo é muito inconsistente.
Tá, Manu. Eu estou entendendo o que você quer dizer.
Que você precisa de mais tempo pra...
pra ter as suas relações.
O que eu acho é que você tem que repensar as suas prioridades.
-Porque a vida não gira em torno... -Espera aí, espera aí. Com licença.
Você está insinuando que eu sou o quê?
Que eu sou uma feminista de Taubaté,
movida a leite dos cocos, é isso?
Poxa, você sabe que eu não sou falocêntrica.
Eu estou, sim, falocêntrica no momento
porque eu acabei de me separar, cara.
Aí, daqui alguns meses, parece que estabiliza.
É o cronograma da solteirice. Funciona assim pra todo mundo.
Agora o prazo que você está me propondo vai
me fazer escolher entre entregar o job,
ou beber meu mingau. Agora você vai mexer
logo no meu gagau, Laura? O que eu lhe fiz?
Manuela, você pode encaixar isso no seu tempo livre.
Tem o horário de almoço todo dia.
Mamada no almoço dá maior refluxo do caralho.
-Todo mundo sabe disso. -Eu só acho que isso não tem
que ser considerado na hora do expediente.
Você fala isso porque você é casada, Laura.
Já me viu mendigar prazo pra lamber um cipó
quando eu estava namorando?
Porra, se eu não tomo a minha mamadeira,
eu nem durmo direito. Daí, desregula o meu sono.
Daí, altera a minha produtividade. Daí, traz prejuízo pra quê?
Pra sua empresa.
-É uma conta simples. -Eu acho
que o que precisa ser feito aqui é separar
o que é trabalho do que é...
E mamada não é trabalho desde quando?
Você acha que é fácil botar um leite na mesa?
Eu estou falando de proteinato. Você não imagina
a quantidade de insights que eu tenho
quando eu estou rabiscando a minha cara de Liquid Paper.
É uma coisa de louco, chega a abrir assim.
Está bom, Manuela.
Se eu conseguir adiar uma semana está bom pra você?
Laura, você acha que eu estou falando
de beijinho estalado na glande?
Eu preciso de tempo pra perder a sensibilidade do meu maxilar.
Eu quero ficar com essa articulação aqui dormente.
Um mês. Um mês e não se fala mais nisso.
-Um mês a mais. Pronto, é isso? -É, aí já...
aí já dá pra dar uma brincada boa. Muito obrigada, chefe.
Ótimo.
Mais alguma observação pertinente ao projeto dessa vez?
Gente, podemos encerrar? 18h05 já.
18h05? Não acredito. Gente,
deixa eu ir porque eu marquei de sentar na cara da Suzana
e não estou nem depilada ainda. Beijos, bom descanso.
Fala, Manu.
Então, Laura, não tem nem como eu te preparar pra isso,
mas esse prazo apertou de novo e...
acho que não vai rolar de entregar esse projeto
-pro cliente amanhã, não, tá? -Não existe essa possibilidade,
Manuela. Eu não tenho nem mais cara
pra falar com o cliente sobre prazo.
Não é possível que você não conseguiu encaixar
suas outras prioridades nesse tempo que eu te dei.
É porque é o seguinte.
A coisa aqui meio que deu uma fugida do controle, sabe?
Agora não tem nem a ver com mamada.
-Não é nem isso. -Fala.
É que...
eu comecei a lamber topete também.
O que é?
Assoprar grelo, beijar a banguela, marinar o carpaccio, sabe?
Beber leite do pires.
Chega, chega. Eu não acredito que eu estou
discutindo isso de novo. Meu Deus.
Laura, mas você, mais do que ninguém, sabe.
Boceta é outra engenharia, é um lance bem mais sofisticado.
Ainda mais pra mim, que estou começando agora.
Quebra essa pra mim, chefe.
Tá. Semestre que vem você entrega isso.
-Sem falta. -Porra.