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BBC News 2021 (Brasil), Vacinas, Manaus e cloroquina: entenda as revelações da CPI da Covid

Vacinas, Manaus e cloroquina: entenda as revelações da CPI da Covid

Após cerca de um mês de funcionamento, a Comissão

Parlamentar de Inquérito da Covid trouxe desgaste para o presidente Jair Bolsonaro

ao revelar detalhes sobre atuação do seu governo no enfrentamento à pandemia.

Se por um lado as testemunhas ouvidas não trouxeram novidades

bombásticas sobre a atuação federal,

de outro os depoimentos serviram para detalhar com

mais profundidade problemas que já eram conhecidos,

como a demora para fechar contratos na compra de vacinas e a reação ao

colapso do sistema de saúde do Amazonas. Eu sou Mariana Schreiber, repórter da BBC

News Brasil em Brasília, e nesse vídeo vou listar três revelações importantes da CPI até o momento.

Em primeiro lugar, vou falar dos detalhes sobre a recusa às vacinas da Pfizer.

Em segundo, vou abordar as informações sobre falhas do governo na obtenção

de mais oxigênio para Manaus. Por fim, vou explicar o que se

sabe sobre a tentativa de mudar a bula da cloroquina, um remédio sem

eficácia comprovada contra covid. Começando pelas vacinas da Pfizer.

Depoimentos e documentos obtidos pela CPI detalham a recusa do governo a ofertas de

vacinas pela empresa ainda no ano passado. O executivo da Pfizer Carlos Murillo disse

aos senadores que a farmacêutica fez cinco propostas em 2020.

A primeira delas, em agosto, oferecia 70 milhões de doses.

Se tivesse sido aceita, 1,5 milhão de doses teriam sido entregues ainda no ano passado.

A oferta foi refeita duas vezes ainda em agostos, mas foi ignorada, segundo ele.

Depois, uma carta foi enviada para o presidente Bolsonaro com cópia para outras autoridades,

entre elas o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello,

mas novamente não houve interesse do governo brasileiro.

À CPI, Pazuello negou que sua pasta tenha ignorado as ofertas e disse

que a proposta não foi aceita inicialmente

porque o governo não aceitava exigências contratuais da Pfizer, como a isenção de

responsabilidade da empresa por efeitos colaterais.

Bolsonaro já havia criticado a farmacêutica pelo mesmo motivo.

Essas demandas da Pfizer, porém, são as mesmas feitas pela empresa para outros países e também

são similares a propostas de outros laboratórios. Apesar de negar que sua equipe tenha

ignorado a farmacêutica, a CPI obteve dez emails enviados pela Pfizer

ao Ministério da Saúde entre agosto e setembro solicitando resposta às propostas.

Essa troca de mensagens obtida pela comissão também mostra que

apenas em dezembro o governo Bolsonaro formalizou uma contraproposta à empresa.

Ainda assim, apenas em março deste ano um contrato foi firmado com a Pfizer,

para compra de 100 milhões de doses. Os emails obtidos pela CPI são sigilosos,

mas foram revelados pelo jornal Folha de S.Paulo. Entrando no segundo ponto, vamos falar das falhas

do governo no fornecimento de oxigênio a Manaus. Um dos focos principais da CPI é esclarecer

a atuação de autoridades federais, estaduais e municipais

durante o colapso no sistema de saúde do Amazonas em janeiro.

O depoimento do ex-ministro das relações exteriores Ernesto Araújo

indicou uma série de falhas que afetou o fornecimento de gás extra para Manaus.

O ex-chanceler admitiu à CPI que não fez qualquer contato com o governo da Venezuela

para agradecer uma doação de oxigênio ao Amazonas nem para tentar viabilizar

novas cargas do país vizinho. Além disso, Araújo confirmou que

o governo dos Estados Unidos ofereceu um avião cargueiro para trazer oxigênio ao Amazonas.

Segundo o ministro, isso não ocorreu porque o governo estadual não respondeu sobre as

especificações do oxigênio necessário. Senadores, por sua vez, disseram que

seria também função do Ministério da Saúde viabilizar a vinda da aeronave.

Quando foi questionado na CPI sobre por que não aceitou a ajuda americana,

Pazuello afirmou que a oferta não tinha chegado a ele.

No terceiro ponto, vou falar sobre a tentativa de mudar a bula da cloroquina.

Outro foco importante da CPI é investigar a promoção do chamado

“tratamento precoce” pelo governo Bolsonaro.

Esse suposto tratamento na prática é um coquetel de remédios ineficazes contra a covid-19,

como cloroquina, azitromicina e ivermectina. Logo na primeira semana de depoimentos da CPI

foi revelada uma tentativa do governo de alterar a bula da cloroquina

para que fosse incluída a previsão do seu uso contra a covid.

Isso, porém, só seria possível caso os produtores do medicamento pedissem essa inclusão,

com base em estudos sólidos comprovando a eficácia da substância – o que não ocorreu.

Segundo o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta,

no início da pandemia ele foi chamado para uma reunião no Palácio do Planalto.

Lá foi discutido um possível decreto presidencial para alterar

a bula do medicamento. No encontro, contou,

estava presente o então ministro da Secretaria de Governo, Luiz Ramos, hoje chefe da Casa Civil.

Mandetta, porém, disse que a ideia logo foi rechaçada pelo presidente da Agência Nacional

de Vigilância Sanitária, Antônio Barra Torres. O presidente da Anvisa confirmou a história à

CPI e disse que a mudança da bula foi defendida pela médica Nise Yamaguchi.

Aliás, um dos próximos focos da comissão é investigar quem são as pessoas de fora

do Ministério da Saúde que teriam orientado o presidente Bolsonaro

sobre a atuação do governo na pandemia. A CPI pretende apurar melhor a atuação

da médica Nise Yamaguchi e de outros colaboradores informais na área,

como empresário Carlos Wizard, que afirmou à TV Brasil ter passado um mês como

conselheiro do Ministério da Saúde. Já o executivo da Pfizer revelou à

CPI que o filho do presidente Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro,

participou de reunião para discutir as vacinas. Depois de mirar a atuação do governo Bolsonaro,

a comissão pretende nas próximas semanas investigar possíveis desvios de recursos

destinados à pandemia nos Estados. A previsão é que serão convocados

governadores de dez Estados, entre eles Amazonas, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Por enquanto é isso pessoal. Espero que esse vídeo tenha ajudado vocês a entender melhor

alguns destaques da CPI até o momento. Fique ligado no site da BBC News Brasil

para acompanhar os próximos passos da CPI. Obrigada pela audiência e até a próxima.


Vacinas, Manaus e cloroquina: entenda as revelações da CPI da Covid Vaccines, Manaus and chloroquine: understand the revelations of the Covid CPI Vacunas, Manaos y cloroquina: entienda las revelaciones del IPC de Covid

Após cerca de um mês de funcionamento, a Comissão

Parlamentar de Inquérito da Covid trouxe  desgaste para o presidente Jair Bolsonaro

ao revelar detalhes sobre atuação do seu  governo no enfrentamento à pandemia.

Se por um lado as testemunhas  ouvidas não trouxeram novidades

bombásticas sobre a atuação federal,

de outro os depoimentos serviram para detalhar com

mais profundidade problemas  que já eram conhecidos,

como a demora para fechar contratos  na compra de vacinas e a reação ao

colapso do sistema de saúde do Amazonas. Eu sou Mariana Schreiber, repórter da BBC

News Brasil em Brasília, e nesse vídeo vou listar  três revelações importantes da CPI até o momento.

Em primeiro lugar, vou falar dos detalhes  sobre a recusa às vacinas da Pfizer.

Em segundo, vou abordar as informações  sobre falhas do governo na obtenção

de mais oxigênio para Manaus. Por fim, vou explicar o que se

sabe sobre a tentativa de mudar a  bula da cloroquina, um remédio sem

eficácia comprovada contra covid. Começando pelas vacinas da Pfizer.

Depoimentos e documentos obtidos pela CPI  detalham a recusa do governo a ofertas de

vacinas pela empresa ainda no ano passado. O executivo da Pfizer Carlos Murillo disse

aos senadores que a farmacêutica  fez cinco propostas em 2020.

A primeira delas, em agosto,  oferecia 70 milhões de doses.

Se tivesse sido aceita, 1,5 milhão de doses  teriam sido entregues ainda no ano passado.

A oferta foi refeita duas vezes ainda em  agostos, mas foi ignorada, segundo ele.

Depois, uma carta foi enviada para o presidente  Bolsonaro com cópia para outras autoridades,

entre elas o então ministro  da Saúde, Eduardo Pazuello,

mas novamente não houve  interesse do governo brasileiro.

À CPI, Pazuello negou que sua pasta  tenha ignorado as ofertas e disse

que a proposta não foi aceita inicialmente

porque o governo não aceitava exigências  contratuais da Pfizer, como a isenção de

responsabilidade da empresa  por efeitos colaterais.

Bolsonaro já havia criticado a  farmacêutica pelo mesmo motivo.

Essas demandas da Pfizer, porém, são as mesmas  feitas pela empresa para outros países e também

são similares a propostas de outros laboratórios. Apesar de negar que sua equipe tenha

ignorado a farmacêutica, a CPI obteve  dez emails enviados pela Pfizer

ao Ministério da Saúde entre agosto e  setembro solicitando resposta às propostas.

Essa troca de mensagens obtida  pela comissão também mostra que

apenas em dezembro o governo Bolsonaro  formalizou uma contraproposta à empresa.

Ainda assim, apenas em março deste ano  um contrato foi firmado com a Pfizer,

para compra de 100 milhões de doses. Os emails obtidos pela CPI são sigilosos,

mas foram revelados pelo jornal Folha de S.Paulo. Entrando no segundo ponto, vamos falar das falhas

do governo no fornecimento de oxigênio a Manaus. Um dos focos principais da CPI é esclarecer

a atuação de autoridades  federais, estaduais e municipais

durante o colapso no sistema de  saúde do Amazonas em janeiro.

O depoimento do ex-ministro das  relações exteriores Ernesto Araújo

indicou uma série de falhas que afetou o  fornecimento de gás extra para Manaus.

O ex-chanceler admitiu à CPI que não fez  qualquer contato com o governo da Venezuela

para agradecer uma doação de oxigênio  ao Amazonas nem para tentar viabilizar

novas cargas do país vizinho. Além disso, Araújo confirmou que

o governo dos Estados Unidos ofereceu um avião  cargueiro para trazer oxigênio ao Amazonas.

Segundo o ministro, isso não ocorreu porque  o governo estadual não respondeu sobre as

especificações do oxigênio necessário. Senadores, por sua vez, disseram que

seria também função do Ministério da  Saúde viabilizar a vinda da aeronave.

Quando foi questionado na CPI sobre  por que não aceitou a ajuda americana,

Pazuello afirmou que a oferta  não tinha chegado a ele.

No terceiro ponto, vou falar sobre a  tentativa de mudar a bula da cloroquina.

Outro foco importante da CPI é  investigar a promoção do chamado

“tratamento precoce” pelo governo Bolsonaro.

Esse suposto tratamento na prática é um coquetel  de remédios ineficazes contra a covid-19,

como cloroquina, azitromicina e ivermectina. Logo na primeira semana de depoimentos da CPI

foi revelada uma tentativa do governo  de alterar a bula da cloroquina

para que fosse incluída a previsão  do seu uso contra a covid.

Isso, porém, só seria possível caso os  produtores do medicamento pedissem essa inclusão,

com base em estudos sólidos comprovando a  eficácia da substância – o que não ocorreu.

Segundo o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta,

no início da pandemia ele foi chamado  para uma reunião no Palácio do Planalto.

Lá foi discutido um possível  decreto presidencial para alterar

a bula do medicamento. No encontro, contou,

estava presente o então ministro da Secretaria de  Governo, Luiz Ramos, hoje chefe da Casa Civil.

Mandetta, porém, disse que a ideia logo foi  rechaçada pelo presidente da Agência Nacional

de Vigilância Sanitária, Antônio Barra Torres. O presidente da Anvisa confirmou a história à

CPI e disse que a mudança da bula foi  defendida pela médica Nise Yamaguchi.

Aliás, um dos próximos focos da comissão  é investigar quem são as pessoas de fora

do Ministério da Saúde que teriam  orientado o presidente Bolsonaro

sobre a atuação do governo na pandemia. A CPI pretende apurar melhor a atuação

da médica Nise Yamaguchi e de outros  colaboradores informais na área,

como empresário Carlos Wizard, que afirmou  à TV Brasil ter passado um mês como

conselheiro do Ministério da Saúde. Já o executivo da Pfizer revelou à

CPI que o filho do presidente Carlos  Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro,

participou de reunião para discutir as vacinas. Depois de mirar a atuação do governo Bolsonaro,

a comissão pretende nas próximas semanas  investigar possíveis desvios de recursos

destinados à pandemia nos Estados. A previsão é que serão convocados

governadores de dez Estados, entre eles Amazonas,  Distrito Federal, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Por enquanto é isso pessoal. Espero que esse  vídeo tenha ajudado vocês a entender melhor

alguns destaques da CPI até o momento. Fique ligado no site da BBC News Brasil

para acompanhar os próximos passos da CPI.  Obrigada pela audiência e até a próxima.