3 pontos para entender a escalada na violência em Jerusalém
A disputa histórica entre israelenses e palestinos, que já dura décadas, vive agora um dos piores
momentos dos últimos anos.
Jerusalém tem sido palco de agitação e violência, em uma disputa entre palestinos
e forças de segurança israelenses.
Ao mesmo tempo, foguetes estão sendo lançados por militantes palestinos do Hamas contra
diversas cidades israelenses, incluindo Tel Aviv, e o Exército de Israel tem feito ataques
aéreos em Gaza.
Os confrontos já deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos, inclusive civis e crianças.
Eu sou a Laís Alegretti, da BBC News Brasil, e neste vídeo falo sobre três pontos que
ajudam a entender a atual escalada de tensão.
Vamos em ordem cronológica.
Primeiro, d-espejos em Jerusalém Oriental
A tensão entre os dois lados foi agravada por um caso relacionado à decisão de despejo
de famílias palestinas para entregar suas casas a colonos judeus no distrito de Sheikh
Jarrah, em Jerusalém Oriental.
Decisões de tribunais de instâncias inferiores apoiando uma reivindicação de colonos israelenses
sobre terras ocupadas por famílias palestinas despertaram a ira dos palestinos.
A Suprema Corte de Israel deveria realizar uma audiência sobre o caso na segunda-feira,
mas a sessão foi adiada por causa dos confrontos.
Vamos lembrar que o assentamento de colonos judeus em territórios palestinos tem sido
uma das principais causas de discórdia neste conflito de décadas.
A lei israelense permite que os judeus reivindiquem propriedade em Jerusalém se puderem provar
um título de propriedade anterior à guerra de 1948.
Ao mesmo tempo, palestinos afirmam que a mesma lei não existe para milhares de palestinos
que perderam suas casas durante o mesmo conflito.
Dá uma olhada nesse mapa: ele mostra como Jerusalém é uma cidade dividida.
Lá estão lugares sagrados não só para judeus e muçulmanos, mas também para cristãos.
Isso faz parte de uma disputa maior por territórios na região.
Nos últimos 50 anos, Israel construiu assentamentos em territórios palestinos ocupados após
a guerra de 1967, onde mais de 600 mil judeus vivem agora.
Os assentamentos são considerados ilegais pela legislação internacional.
Os palestinos dizem que eles são um obstáculo à paz, mas Israel nega.
Segundo ponto, violência no Ramadã:
Os ânimos na região esquentaram no mês passado.
O Ramadã, mês sagrado muçulmano celebrado pela maioria dos palestinos, começou em meados
de abril.
E muitos palestinos reclamaram do que consideram um controle excessivo de suas reuniões após
os jejuns diários, argumentando que foram impedidos de se reunir em Jerusalém durante
a noite.
E durante o Ramadã houve vários confrontos noturnos entre a polícia e os palestinos
que protestavam contra as barreiras de segurança do lado de fora do Portão de Damasco, na
cidade velha de Jerusalém.
Os confrontos não se limitaram a Jerusalém.
Também houve conflito em Haifa, no norte de Israel e perto da cidade de Ramallah, na
Cisjordânia.
Mas esse foi apenas o pano de fundo que serviu para a grande explosão de violência que
se intensificou desde o fim de semana.
Terceiro ponto, dia de Jerusalém
A segunda-feira, 10 de maio, marcou o Dia de Jerusalém, que é comemorado por israelenses
com a chamada Marcha da Bandeira.
Essa celebração, que muitos consideram nacionalista, comemora a ocupação de Jerusalém Oriental
por Israel em 1967, quando, durante a Guerra dos Seis Dias, os israelenses assumiram o
controle de toda a cidade.
Tradicionalmente, nesta marcha, centenas de jovens israelenses agitam bandeiras e caminham
por áreas muçulmanas da cidade, cantando canções patrióticas, algo que muitos palestinos
consideram uma provocação.
E aqui vale lembrar que tanto israelenses quanto palestinos reivindicam direitos sobre
Jerusalém Oriental.
Israel considera toda a cidade como sua capital, embora não seja reconhecida como tal pela
maioria da comunidade internacional.
Já os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como a futura capital de um estado independente
aguardado por eles.
E foi assim que a briga começou do lado de fora da Mesquita de Al Aqsa, na Cidade Velha
de Jerusalém.
Palestinos atiraram pedras na polícia israelense, que disparou balas de borracha e gás lacrimogêneo.
O movimento humanitário Crescente Vermelho Palestino disse que mais de 300 palestinos
ficaram feridos nos confrontos de segunda-feira em Jerusalém.
E a polícia israelense relatou mais de 20 policiais feridos.
O grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, denunciou a repressão policial israelense
contra os palestinos e reagiu lançando centenas de ataques com foguetes contra Jerusalém.
Em Israel, duas pessoas morreram e mais dez ficaram feridas.
Isso, por sua vez, desencadeou uma resposta militar forte de Israel: seu exército fez
ataques aéreos contra alvos na Faixa de Gaza e contra líderes do Hamas que ele considera
terroristas.
Autoridades de saúde palestinas em Gaza disseram que pelo menos 28 pessoas, incluindo nove
crianças, foram mortas nos ataques.
E o exército israelense relata que pelo menos 15 membros do grupo extremista Hamas estavam
entre os mortos.
Um prédio de 12 andares foi ao chão após bombardeios das forças israelenses.
Militantes palestinos afirmaram ter disparado 200 foguetes em direção a Tel Aviv e Beersheba
como resposta.
Essa sequência de fatos culminou nessa espiral de violência.
Mas a verdade é que a tensão entre os palestinos e as forças israelenses é frequente, sempre
esteve no ar por décadas.
A comunidade internacional vem pedindo o fim da violência o mais rápido possível.
Mas o fato é que a nova onda de confrontos traz novamente aos olhos do mundo um conflito
que tem arruinado e acabado com as vidas de palestinos e israelenses por gerações.
E eu preciso lembrar que esse tema é cheio de detalhes e questões disputadas pelos dois
lados, sem respostas simples.
Então eu convido você a assistir a uma minissérie de três vídeos aqui no canal da BBC News
Brasil no Youtube que detalha pontos que eu falei aqui.
O primeiro explica a origem desse conflito.
O segundo fala dos assentamentos israelenses e as intifadas palestinas.
E o terceiro detalha exatamente por que Jerusalém é chave para o conflito entre israelenses
e palestinos.
Conta aqui embaixo o que achou deste vídeo e o que mais você quer ver no nosso canal.
Até a próxima!