Covid-19: novo mapa global deve ter Brasil em 'zona vermelha'
Imagine um mundo dividido entre zonas verdes, amarelas e vermelhas, de acordo com o grau
de sucesso de vacinação dos países contra a covid-19.
Ou seja, com lugares em que a pandemia estiver controlada podendo restabelecer comércio,
turismo e viagens entre si, permitindo que suas economias voltem a girar.
Mas também com outros, como o Brasil, onde as infecções e mortes estão altas, a vacinação, insuficiente,
e sem conseguir controlar o surgimento de novas variantes do vírus.
Essas áreas do mapa continuariam isoladas do resto do mundo.
Eu sou Nathalia Passarinho, repórter da BBC News Brasil em Londres, e neste vídeo eu
falo sobre a divisão do mundo em zonas de risco.
O que, segundo especialistas com quem eu conversei, deve deixar de ser imaginação e se tornar
realidade até o fim do ano.
Segundo o virologista Julian Tang, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, a expectativa
é de que nações europeias, da Oceania, Israel e partes da Ásia, como Cingapura e
Coreia do Sul, possam colher os louros econômicos de seu sucesso no controle da pandemia já
no meio do ano.
Os países que tendem a sofrer maior isolamento são os que não adotaram de maneira sistemática
medidas de controle da covid-19 nem negociaram vacinas antecipadamente, como é o caso do
Brasil.
Por enquanto, o Brasil só tem doses das vacinas Oxford-AstraZeneca, adquiridas pela Fiocruz,
e da Coronavac, do Instituto Butantan, que seriam insuficientes para imunizar toda população
com mais de 18 anos ainda em 2021.
O governo vem prometendo comprar de outros fabricantes e disse que fechou acordo com
a Pfizer e a Janssen, mas as doses vão chegar aos poucos, ao longo do ano.
Desde o começo da pandemia, o turismo foi uma das áreas mais atingidas em todo o planeta.
Mas, com essa tendência de divisão do mundo em zonas, as verdes poderiam ver a retomada
das viagens.
Hoje, os países onde surgiram as variantes mais preocupantes do coronavírus, que são
Brasil, África do Sul e Reino Unido, são os que têm mais restrições para entrada
em outros países, segundo um levantamento do jornal Folha de S.Paulo.
Mas o Reino Unido tende a deixar a zona vermelha, já que a infecção caiu em dois terços
desde o início de um lockdown em janeiro, que ainda está em vigor.
E a previsão é que todos os moradores com mais de 18 anos recebam ao menos uma dose
da vacina até o fim de julho.
Nesse meio tempo, outros países da Europa e da Ásia também já deverão ter vacinado
de 60% a 70% da população.
Esse é o percentual necessário para que a circulação do vírus comece a desacelerar
mesmo na ausência de medidas de confinamento.
Para o professor Julian Tang, é provável que esses países na "zona verde" mantenham
até 2022 restrições de voos para regiões do mundo que não conseguiram vacinar suas
populações.
E, mesmo que isso não ocorra, a procura por viagens para esses países deve cair naturalmente,
por causa dos riscos das novas variantes.
A situação em Israel, país com melhor ritmo
de vacinação até agora, dá uma pista de como essa divisão do mundo deve acontecer.
Em Israel, não é obrigatório se vacinar.
Mas as pessoas que não tomarem vacina vão acabar isoladas do restante da população, sem poder
frequentar a maioria dos espaços públicos.
Isso porque as pessoas vacinadas lá recebem o chamado "passaporte verde", um documento
eletrônico que permite acesso a restaurantes, academias de ginástica, teatros, cinemas
e outros estabelecimentos.
O país iniciou a abertura gradual da economia depois de três lockdowns com medidas duras
de confinamento.
Para os especialistas, essa divisão entre vacinados e não vacinados vista em Israel,
deve se repetir em escala global.
Mas chama a atenção o caso dos países pobres, que não têm recursos para comprar vacinas
e estão nas mãos de iniciativas globais de ajuda.
Para o professor Peter Baker, da universidade Imperial College London, esse cenário deve
aprofundar a desigualdade social entre os hemisférios Norte e Sul.
Baker lembra que o fato de os países ricos conseguirem vacinar suas populações este
ano, e a maior parte do mundo não, não é mera coincidência.
Mas além de expor uma desigualdade, isso pode atrapalhar o esforço global de pôr
fim à pandemia.
Isso porque a existência de partes do mundo sem imunização em massa abriria espaço
para o surgimento de variantes que resistem ao efeito das vacinas.
Isso pode levar, por exemplo, à necessidade de uma terceira ou até quarta dose de reforço
nas pessoas vacinadas.
O pesquisador Charlie Whittaker, da Imperial College London, também alerta que, mesmo
com as restrições de viagens, o mundo só estará totalmente protegido da covid se
todas as nações imunizarem suas populações.
Um estudo dele mostrou que a variante P.1, mais conhecida como variante de Manaus,
é até 2,2 vezes mais transmissível, e é capaz de reinfectar facilmente quem já teve
covid-19.
Embora muitos países tenham impedido voos vindos do Brasil e imposto quarentenas e testes
de covid-19 a quem desembarcarsse ela já foi detectada em 25 países.
E não é só a P.1.
A variante do Reino Unido se espalhou nos EUA e a da África do Sul chegou à Europa.
Ou seja, não adianta só fechar as fronteiras.
Para que o hemisfério sul não seja deixado para trás, a Organização Mundial da Saúde
vem defendendo que países ricos doem seus excedentes de vacinas a países pobres e contribuam
financeiramente com a compra de imunizantes para regiões mais afetadas pela covid.
O diretor-geral da OMS chegou a declarar que o "mundo está à beira
de um fracasso moral catastrófico", ao criticar o fato de jovens já estarem recebendo vacina
contra covid em países ricos, enquanto idosos de países pobres poderão passar 2021
e até 2022 sem acesso à primeira dose.
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